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Correndo dos riscos

Sobrou uns trocados para investir? Cuidado para não perder tudo

Publicado

Autor/Imagem:
Bartô Granja

Em 2019, a economia brasileira promete tomar um novo rumo, portanto, entender como e onde investir neste ano novo é imprescindível para quem deseja conquistar seus objetivos financeiros.

O investidor deve ter em mente que, independentemente de qual seja seu objetivo, é preciso conhecer as armadilhas do mercado financeiro, a fim de se proteger e beneficiar ao máximo das novas mudanças.

É o que explica o economista Flavio Terni, nas dicas a seguir:

1 – Esquecer que o mercado é competição
Para bater o mercado (e ganhar dinheiro), alguém precisa perder. Portanto, quando se decide comprar e vender ativos, deve-se ter em mente contra quem se está competindo: fundos de investimentos, brasileiros e internacionais, com centenas de analistas, infraestrutura adequada, custo de corretagem menor, maior (e melhor) acesso à informação e maior experiência. É necessário pensar racionalmente qual a vantagem competitiva que se possui contra “a outra ponta” antes de investir. Será que alguns meses de estudo e a leitura de jornais são o suficiente? Existem, obviamente, algumas vantagens em ser pequeno em comparação a esses investidores. Talvez a principal é que o investidor pode “entrar e sair” do mercado com muito mais facilidade, dado que fundos precisam aportar milhões em uma posição – e isto toma tempo. Porém, é de suma importância que a pessoa mantenha a humildade e os pés no chão, ou então será presa fácil para o mercado.

2 – Não definir seus objetivos
Se o investidor não sabe para onde ir, qualquer destino serve. No caso do mercado financeiro, investir sem uma meta clara provavelmente trará prejuízo. É necessário ter um objetivo claro de retorno esperado, para então conseguir dimensionar adequadamente o risco necessário para atingi-lo. Somente com essa informação na mão é possível decidir se é um risco tolerável ou não. É importante comparar “banana com banana”. Ouve-se frequentemente histórias de alguém que “ganhou 30% com ações”. Este valor, sem contexto, não quer dizer nada. Qual foi o risco (volatilidade) que o investidor incorreu? Quanto rendeu o benchmark? Se o benchmark rendeu 40% com risco de 20%, e o investidor fez 30% com o mesmo risco, além de ter rendido menos que o benchmark (Alpha negativo), ainda foi menos eficiente em termos de risco x retorno (Sharpe menor).

3 – Não entender conceito de risco
Correr mais risco para ter mais retorno – essa é talvez a frase mais perigosa que existe no mercado financeiro. É comum escutar investidores dizendo que a carteira vai render muito porque aumentaram o nível de risco dos investimentos, como se risco x retorno fosse uma garantia. Entretanto: risco é incerteza. Em outras palavras, não é só porque se está arriscando mais que necessariamente se irá obter um retorno maior (o que parece óbvio – não é). Se o investidor está contando com uma carteira arriscada para atingir um nível de rendimento suficiente para suprir suas necessidades básicas para viver, é muito provável que, em algum momento, irá passar por algum sufoco. Antes de montar uma carteira de investimentos e começar a escolher os produtos, a primeira pergunta (de todas) deve ser o risco máximo que se está disposto/pode correr

4 – Subestimar a necessidade do mercado
Nada como a ilusão de segurança para deixar qualquer investidor cego. Um mercado secundário – aquele que permite a troca direta de ativos entre investidores – é extremamente importante para trazer um senso de realidade ao investidor. Quando existe um mercado secundário ativo e com liquidez, os preços dos ativos negociados variam constantemente, como se fossem ações, e, portanto, refletem exatamente o valor justo dos ativos para os investidores. Ativos sem mercado secundário oferecem as maiores armadilhas para qualquer investidor. Normalmente os investidores vão para esses ativos pois tem medo da variação (volatilidade) de preços diariamente. Imóveis, negócios de família, empresas de capital fechado, crédito, tudo isso deveria vir com um enorme aviso: “Cuidado! Comprar um ativo que não possui volatilidade equivale a dirigir vendado. Não fuja da volatilidade, ela é uma grande aliada: te permite medir risco”. Quando não há oscilação de preço, os ativos podem (e são) muitas vezes oferecidos como “livre de risco”, e o investidor, claro, adora. Quem não quer um ativo “sem risco/variação” que rende mais que o CDI? No Brasil, alguns dos ativos com mercado secundário ilíquido são os produtos de crédito como CDB, LCI/LCA, Debêntures e CRI/CRA. Portanto estes ativos podem mascarar o verdadeiro risco da sua carteira – é necessário que o assessor investigue a fundo as garantias de cada ativo e faça uma análise crítica do risco x retorno.

5 – Não checar custo
Todos já ouviram que Fundo Referenciado DI custando 2% é perda de dinheiro. Mas um fundo de ações passivo cobrando 2% também é. Cada fundo tem um propósito, e cada propósito tem um custo. Se o investidor não sabe a diferença entre um fundo ativo e um fundo passivo, provavelmente vai pagar por uma Mercedes e receber um Fusca. Importante: esquecer aquela história de “se está dando resultado não interessa o custo”. Para cobrir um custo alto, os gestores precisarão tomar mais risco. Nesse caso, o investidor ficará com todo esse excesso de risco, mas o gestor ficará com boa parte do retorno. Ao ignorar o custo o investidor indiretamente corre, desnecessariamente, mais risco.

6 – “Diversificar”
Quem não conhece o ditado “nunca coloque os ovos na mesma cesta”? Todo mundo já. E, por isso, as pessoas dividem os ovos em várias cestas e, depois… colocam todas as cestas na mesma bandeja. Resultado: desastre. A verdadeira diversificação é feita entre classes de ativos (juros, câmbio, bolsa e commodities), geograficamente e entre estilos diferentes (macro, quant, event-driven, l&s, etc.). A quantidade de bancos ou de produtos, por si só, não quer dizer nada. É preciso lembrar que fundos são apenas veículos para viabilizar a compra de ativos. Quando se opta por investir em vários fundos que compram os mesmos ativos, não se estará diversificando. Outro caso é comprar ativos cuja variação de preço é similar – neste caso, quando um ativo desvalorizar, os outros provavelmente perderão também. Exemplo: Um investidor possui 50% do patrimônio no Banco A, investidos igualmente em LCI, CDB e Fundo Imobiliário e 50% do patrimônio no Banco B, investidos em Fundo REF DI, NTNB-B, Poupança, LCA e CRI. Existe diversificação neste caso? Em caso positivo, é preciso estudar mais a fundo.

7 – Focar em produtos individuais e não na carteira geral
Um ativo com excelente retorno e baixo risco é bom? Depende. Se o investidor está olhando-o isoladamente não quer dizer muita coisa. Qualquer ativo tem que ser analisado no contexto da sua carteira. Ao adicioná-lo à carteira, ela melhora ou piora? Todos os ativos possuem uma determinada correlação entre eles. É importante sempre levar em consideração a somatória final de retorno e risco da carteira. Para uma carteira que investe pesado em LTN e NTN-B, adicionar no portfólio um fundo imobiliário provavelmente será uma péssima jogada, dada a correlação alta que existe entre movimentações da taxa de juros futura e esses ativos. Importante: uma variação deste pensamento e um dos principais vieses comportamentais do ser humano é a tendência de separar o próprio patrimônio em “caixas”, cada uma com um propósito: temos a caixa da faculdade dos filhos, a caixa da aposentadoria, a caixa das viagens, a caixa do risco (onde estão os produtos agressivos). Cuidado. No final do dia, o que interessa é a soma do retorno (e risco) de todas as caixas. Quando se separa, fica muito mais difícil ver o panorama geral e é muito mais provável que a carteira total não performará bem.

8 – Superestimar racionalidade e emoção
O investidor humano, seja ele profissional ou não, está sujeito a uma série de vieses comportamentais que afetam a decisão racional. Quem nunca comprou um ativo que perdeu valor e, ao invés de vender, preferiu segurá-lo até que ele “voltasse para o preço original de compra”? Isto é um clássico erro de raciocínio, conhecido como ancoragem. O fato de um ativo ter tido um preço no passado em nada garante que o mesmo voltará para aquele valor, e o mercado não tem nenhum motivo para levar o seu preço pessoal de compra em consideração. Outros vieses são muito comuns, como o de confirmação. O investidor estuda uma ação e se convence de que é um bom investimento. A partir deste momento, seu cérebro vira um radar à procura de informações que confirmem suas crenças ou hipóteses iniciais, ignorando fatos que não estejam alinhados com sua hipótese. Dificilmente se irá atrás de informações que invalidem sua crença inicial, simplesmente porque é contra a sua própria natureza buscar informações que lhe mostrem que está errado.

9 – Focar no histórico e não no processo
“Retorno passado não é garantia de retorno futuro”. Esta frase já é bem conhecida. Entretanto, um longo histórico de alta performance é, sim, um bom indicador inicial para pesquisar um produto com maior profundidade, em especial um fundo de investimento. No caso de um fundo de investimento, o histórico deve servir como filtro inicial na escolha da gestora. O mais importante, porém, é averiguar se a equipe de gestão e o processo de investimento que foram responsáveis pela performance no passado se mantém. É comum a mudança da equipe de gestão ou a troca no processo de investimentos em uma gestora. Neste caso, aquele histórico não vale nada, pois reflete o sucesso obtido por uma equipe ou processo que não existe mais.

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