Predadores
Sociedade louca transforma garotos em verdadeiros marginais
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Falar sobre certas situações é um tanto… complicado. Mas até para que possamos afastar de nós o fantasma da violência, ao qual todos estamos sujeitos, precisamos nos abrir para o mundo. São experiências que, se não nos afetaram no momento do ocorrido, representam, sim, ameaça à nossa integridade física… nem vou falar da sanidade mental…
Um certo dia, quando eu e minha neta de dez anos resolvemos passear pelo bairro, aproveitando o dia ensolarado que fazia, vivemos uma situação inusitada. Caminhamos pelas ruas, ela brincou em um dos vários parquinhos espalhados pela região, comprou um pacote de pipoca doce , que adora, sentou-se no banco da praça onde degustou com tranquilidade seu acepipe favorito e continuamos a caminhar. Como o dia estava lindo, como eu já disse, cruzávamos as ruas sem nenhum critério, pelo simples prazer de caminhar e conversar…
Foi em uma dessas ruas pelas quais passávamos que algo que ninguém espera, aconteceu. Em determinado ponto estava ocorrendo uma festa, onde a maioria das pessoas comiam no meio da rua, com seu prato na mão. Era um desses churrascos da vida, onde tudo que os participantes desejam é comer, beber e aproveitar seu dia de lazer. Nada de anormal, não é mesmo? Afinal, o que há de mais em um grupo de amigos se reunir para seu churrasco de final de semana? Bem… foi aí que tudo começou a desandar para nós…
Ao passarmos pelo grupo, alguns olhares meio estranhos nos foram dirigidos. Mas, até aí tudo bem. O que veio a seguir é que tornou nosso passeio um tanto… constrangedor, para dizer o mínimo… nem eu nem minha pequena estávamos usando roupas “impróprias” para nossa caminhada. Estávamos vestidas normalmente, nada que chamasse atenção. Porém…
Quando estávamos seguindo por outra rua, veio o inesperado… dois adolescentes, de bicicleta, passaram a nos seguir. A principio não nos importamos com tal fato, visto que o direito de ir e vir é algo inerente a todos… mas a maneira dos garotos agirem (não deveriam ter mais que 14, 15 anos) começou a despertar aquela sensação incômoda de perigo… agiam como animais predadores, cercando a presa a todo momento. Estavam sempre próximos a nós, não nos dando nenhum momento de tranquilidade em nosso passeio. Na verdade, a partir daquele instante, não havia mais clima para continuarmos algo que simplesmente é nosso direito… uma caminhada dominical. Os dois garotos faziam questão de se mostrar o mais desagradáveis possível, com uma postura belicosa que não tinha sentido algum. Minha pequena começou a ficar nervosa e eu tinha que acalmá-la… confrontar nossos perseguidores não era a melhor escolha…
Depois de caminhar por mais de dez quarteirões e tentar afastar nossos perseguidores… fomos em um bar comprar uma garrafa de água, entramos em um supermercado e ficamos por mais de quinze minutos dentro de mesmo, percebi que os dois não nos dariam trégua e que alguma atitude deveria ser tomada, para evitar que algo não desejável acontecesse…
Quando precisamos de uma viatura policial… ou mesmo de policiais patrulhando o bairro a pé… não encontramos nenhum à disposição. Visto que eu não desejava que os dois caçadores (não tenho outro adjetivo para nomear aqueles jovens… até tenho, mas é melhor deixar para lá…) seguissem-nos até onde moro, e pelo visto esse era seu objetivo… resolvi entrar em uma farmácia, da qual sou cliente há muito tempo e pedi para usar o telefone deles para chamar uma viatura. Claro que não me atenderam, mas o gerente da Unidade foi ter com os dois meliantes… não há outro termo para usar, agora… e depois de alguma conversa, conseguiu fazer com que os dois desistissem de sua caçada. Os rapazes finalmente foram embora, deixando a mim e minha neta em paz… não antes de fazerem o sinal de “arminha” em minha direção, deixando bem claro suas intenções…
Agradeci ao rapaz por sua gentileza, aguardei mais algum tempo e finalmente eu e minha pequenina seguimos de volta para nosso lar… mas fico aqui pensando… o que leva algumas pessoas a perseguir alguém que nada fez para eles? Qual o sentido de tal ação? Se sentirem fortes, capazes de dominar desconhecidas? É algo que não tem lógica alguma…
Infelizmente vivemos em uma Sociedade doente, onde as pessoas acabam por temer umas às outras. Porque alguns elementos decidem ter mais direitos que outras pessoas e tentam impor sua lei, que para eles faz todo sentido do mundo, visto que estão imersos em seu Universo Obscuro e tentam arrastar para este o maior número de vítimas que conseguirem. Para que possam sentir-se vivos. Para que possam encontrar algum sentido em sua vida triste e miserável. Para que possam encontrar algum sentido em sua pequenez, não se importam em constranger as pessoas à sua volta, na ânsia de se mostrarem grandes. Tentando, através da imposição do medo em outras pessoas, mostrar que tem o domínio sobre o destino, seu e de outrem…
Não me amedrontaram. Mas eu estava de mãos amarradas quanto a reações de minha parte por estar acompanhada por minha pequena. Não poderia deixá-la se assustar com a situação, não poderia fazê-la perder a fé na humanidade. Estivemos expostas a uma situação de constrangimento pelo qual não precisávamos passar, uma vez que a única coisa que fazíamos naquele momento era dar um passeio no bairro onde moramos. Mas, aparentemente, as pessoas não tem mais o direito de ir e vir sem que sejam obrigadas a suportar determinadas situações… triste mundo esse em que vivemos…
Tudo que posso desejar é que, em algum momento, os dois rapazes encontrem a Luz que tudo ilumina e percebam que a violência gratuita contra as pessoas não vai levá-los a lugar algum. Que entendam que viver em paz é o melhor caminho para nossa realização pessoal. E que perseguir pessoas pelas ruas não é a melhor política para ninguém…