A cuidadora
Sofia, 9 anos, vive história de final feliz com Mafalda, 15
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Não sei se a história terá final feliz. Prometo tentar, mas não garanto. Também não estou certo se será crônica ou conto. Na última linha talvez desvendemos tudo. Talvez.
O causo envolveu uma garota chamada Sofia, nove anos, filha única e de família muito pobre. O pai trabalhava como coletor de reciclados e a mãe fazia meio período como faxineira. Vida dura.
Como frequentava a escola pela manhã, após o almoço a pequena Sofia cuidava sozinha da casa e também de Mafalda, uma senhorinha sem parentesco com a família, agregada há tempos por afeto e que ficou enferma.
Sofia nutria apego imenso por ela, ainda mais depois do diagnóstico de cegueira, artrite e disfunção cognitiva, tudo pela idade avançada. Houve suspeita também de diabetes, mas os recursos da família não permitiam tantos exames e remédios. Foi-se levando.
Os pais de Sofia sempre se culparam por deixar tamanha responsabilidade para a filha transformada em cuidadora. Até mamadeira ela preparava para Mafalda depois que caíram os últimos dentes.
Um aposentado que morava ao lado bem que poderia ser socorro em alguma emergência, não fosse ele meio rabugento e ainda locador da casa onde Sofia morava e que, mal sabia ela, estava com aluguel atrasado e despejo iminente.
A mãe de Sofia sempre recomendou para a filha: “Qualquer problema, chama o SAMU”. E pregou o número da emergência na geladeira. O dia de usá-lo chegou. Mafalda começou a passar mal e Sofia ligou para o 192 implorando ajuda para uma idosa doente.
– A pessoa está consciente? Qual a idade? – indagou a atendente.
– Ela tem 15 anos e não para de latir – disse Sofia.
Na certeza de ser trote, a atendente encerrou a ocorrência com um palavrão. Desesperada, Sofia gritou para o vizinho ranzinza, que acordou da sesta, pegou amavelmente a vira-lata Mafalda no colo e correu pro veterinário.
Mafalda hoje passa bem, o aluguel continua pendente, mas o locador desistiu do despejo…
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