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Região de contrastes

Sol radiante e a chuva refrescante marcam clima nordestino

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Autor/Imagem:
Acssa Maria - Texto e Foto

O Nordeste acorda cedo. Antes mesmo do galo cantar, já há vida pulsando nas ruas de barro batido, nos mercados que cheiram a fruta madura e nas janelas entreabertas onde o aroma do café fresco se mistura ao da terra seca. Acorda com passos ligeiros, com o vai-e-vem do balde na cabeça, com o som distante de um aboio cortando o silêncio da manhã.

O sol, rei soberano, não pede licença. Ele surge com força, dourando os telhados de zinco e obrigando os olhos a se apertarem. É um sol que queima e abraça ao mesmo tempo — um sol nordestino, acostumado a reinar por dias e dias, sem dar trégua. Ele seca os açudes, racha o chão, mas também faz o milho crescer ligeiro, força a manga a amadurecer no pé e dá o tom dourado da pele de quem vive sob seu olhar constante.

Mas basta uma nuvem atrevida atravessar o céu para mudar a paisagem. Lá vem a chuva. Rara, desejada, quase sagrada. Não é apenas água: é esperança. As crianças correm descalças sob os pingos grossos, os adultos erguem os rostos ao céu como quem agradece uma graça alcançada. As ruas se tornam rios, as risadas ecoam, e o cheiro da terra molhada invade tudo — um perfume que só o sertão conhece, feito de lembrança e promessa.

A primeira gota é saudada como visita ilustre. É o tipo de coisa que faz até os mais calados abrirem um sorriso. E tem sempre alguém que diz, com os olhos brilhando: “Agora vai!” Vai dar feijão, vai dar milho, vai dar vida. Porque onde a chuva toca, a terra responde. Verdeja. Brota. Floresce.

Esse é o Nordeste: sol e chuva, secura e abundância, luta e festa. Um lugar onde o suor do trabalho convive com a leveza do forró, onde a dureza do chão rachado contrasta com a ternura de um abraço dado na calçada. Onde cada amanhecer é um desafio, e cada fim de tarde é celebrado como vitória.

É a terra do improviso, da resiliência, da poesia falada em cordel e do riso fácil que resiste mesmo nos tempos difíceis. É onde a fé não precisa de muita palavra — basta um gesto, uma vela acesa, um “ôxe!” sussurrado diante da beleza do inesperado.

E talvez seja justamente nesse contraste que more a beleza da região. No calor que castiga, mas também aquece os corações. Na chuva que atrasa a feira, mas traz vida às plantações. No povo que resiste, sorri e canta — faça sol ou faça chuva.

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