Congresso da Mamata
Sonho meu, sonho meu, é ver o fim da extrema direita no Congresso
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Ontem resolvi cometer o pequeno erro de sempre: abri aquela rede social que insisto em chamar de Twitter (apesar do novo nome, X, que pra mim continua parecendo título de filme pornô dos anos 1990). Fui dar uma espiada nos assuntos mais comentados e, entre memes, tretas e fofocas da subcelebridade do dia, lá estava ele: CONGRESSO DA MAMATA.
Confesso que até esfreguei os olhos. Seria uma miragem? Um lapso coletivo de consciência política? Um milagre digital? Porque, veja bem, o brasileiro médio parece finalmente ter percebido que deputados e senadores existem. E mais: que eles têm um poder gigantesco. Tipo, real. Tipo, mais poder que o presidente da República em muitas questões decisivas. Chocada estou.
Por anos fomos treinados pra xingar só o presidente. Não importa o partido. Se tá na cadeira, a culpa é dele. O preço do arroz subiu? Culpa do presidente. Caiu um meteoro? Culpa do presidente. O Congresso votou um projeto que tira direito dos trabalhadores? Ah, aí ninguém vê, ninguém comenta, ninguém se indigna. Milagrosamente, parece que a ficha está caindo: os deputados e senadores estão lá, bem confortáveis, com seus auxílios, penduricalhos, aposentadorias especiais e, claro, defendendo bravamente os interesses de… trinta e poucos milionários e meia dúzia de corporações.
E aí eu me pergunto: será que é agora? Será que o brasileiro vai entender que o presidente da República, sozinho, não é um super-herói da Marvel? Que ele precisa de um Congresso que não seja majoritariamente formado por empresários, latifundiários, moralistas seletivos e gente que acredita que direitos humanos são um detalhe dispensável?
Seria o CONGRESSO DA MAMATA o novo acorda Brasil? Será que em vez de “o problema é o PT” ou “o problema é o Lula”, vamos ouvir “o problema é a base conservadora que barra qualquer avanço civilizatório”? Ai, que sonho.
Mas, claro, isso pode ter sido só um lampejo. Daqui a pouco o trending topic será “volta BBB 20” e tudo voltará ao normal. Mas, por um instante, fiquei ali, olhando pra tela do meu telefone, com a esperança boba de que talvez, só talvez, o brasileiro esteja mesmo começando a entender o jogo.
Se esse despertar continuar, quem sabe em 2026 a gente pare de eleger quem acha que política é, literalmente, um negócio de família. E comece a escolher gente comprometida com o bem comum, e não com o bem da própria conta bancária. Porque mudar o país de verdade não é sobre eleger um salvador da pátria. É também sobre trocar os donos da caneta no Congresso.