Costão
TARDES
Publicado
em
Fim da tarde. Chego de outra trilha até o Costão e vou à cozinha coletiva.
E lá está ele, o sabiá-laranjeira me esperando, cantando árias e rapsódias, desejando uma boa noite.
— Gil, ontem de manhã eu lhe disse que cantava por tristeza. Não é bem assim. Canto pela falta que a “sabiazinha” me faz, mas canto também pelo conforto de ter vivido e cantado em duas vozes com ela pela vida toda.
— Opa, meu amigo … maravilha! Fico mais aliviado, pois sei que você é o belo canto em pessoa. —- Grato, meu amigo, gratíssimo. Boa gente é você, Gil, que fala com as plantas, com tudo e ainda me chama de Milton Nascimento!
— Nada, não…TUDO fala e canta e encanta a vida que temos para levar. Meu pai, sim…seu Motinha… falava com formigas, abelhas, beija-flores, vaga-lumes. E eles respondiam e eu e meu mano fomos aprendendo com ele. Eu é que sou grato, meu amigo! De coração e alma; pura verdade.
A criatura de penas marrom-dourada se despede e antes de se retirar para o justo descanso da noite solta uma daquelas canções inesquecíveis que aprendeu com Tom Jobim… SABIÁ.
Esquento o meu “rango” noturno e agradeço mais uma vez pela comida, pela música mágica de meu amiguinho virtuose e pela amizade que molda pontes entre o inhumano e o mundo dos homens. Sábio sabiá, o ser cantante mais Milton Nascimento/Tom Jobim que eu tenho a dádiva de conhecer. e que divide comigo a jornada de viver na Guarda do Embaú SC.
……………………
Gilberto Motta é escritor, jornalista, professor/pesquisador que já sabe que quando essa jornada findar terá um amigo sabiá cantando pelas manhãs e nos finais de tarde ao lado da janela de sua nova casa. Vive na Guarda do Embaú, vilarejo de pescadores, artistas e turistas no litoral de SC.