Salve-se quem puder
Tarifaço de Trump deixa produtor nordestino engasgado com frutas
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O que antes era motivo de orgulho e prosperidade, hoje virou sinônimo de prejuízo e frustração. Após o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o setor fruticultor do Nordeste vive uma crise sem precedentes. A medida, vista como uma retaliação disfarçada de política econômica, afetou em cheio estados como Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, onde mangas, uvas e melões antes embarcados para os Estados Unidos agora apodrecem nos pomares.
“É uma tragédia anunciada. A gente investe em tecnologia, em irrigação, cumpre as exigências sanitárias e ambientais, e de uma hora para outra o principal mercado fecha a porta na nossa cara”, desabafa João Nogueira, produtor de melão em Mossoró (RN), que perdeu cerca de 40% da safra nas últimas semanas.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), os prejuízos ultrapassam R$ 1,2 bilhão em apenas dois meses. O setor, que vinha crescendo em ritmo acelerado, agora enfrenta demissões em massa, desperdício de toneladas de alimentos e o risco de colapso de toda a cadeia produtiva.
As frutas, antes acomodadas em câmaras refrigeradas para exportação, agora lotam galpões sem destino. A solução de vendê-las no mercado interno esbarra na capacidade limitada de absorção e na queda dos preços. Em algumas feiras do sertão, a manga é vendida por centavos. E mesmo assim, não há consumo que dê vazão.
“O que Trump fez foi um tiro no próprio pé – e no nosso estômago”, critica o economista rural Gilberto Mota. “Os Estados Unidos perdem produtos de qualidade, e nós perdemos renda, empregos e dignidade no campo.”
Nos bastidores, o Itamaraty tenta reverter a decisão, mas as negociações esbarram na narrativa trumpista de “proteção da economia americana”. Para produtores nordestinos, no entanto, não há nada mais perverso do que a política internacional quando se mistura com ideologia.
“Quem plantou esperança agora colhe abandono”, resume Nogueira. “E o povo do campo segue engasgado com as frutas que não pode mais vender.”