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Val tudo do voto

Tensão eleitoral explode e ordem superior é fuzilar quem ama paz

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Mathuzalém Júnior* - Foto Valter Campanato

Após 522 longos anos de sua descoberta, passados 200 anos da independência portuguesa e depois de 25 anos de um período sombrio e tenebrosamente ditatorial, eis que o Brasil volta a seu pior estágio: o da Idade da Pedra. O exagero do extremismo praticado pelos simpatizantes do presidente acima de qualquer suspeita Jair Messias Bolsonaro mostra o grau de imbecilização, patetização e estultice a que chegamos. A ignorância que experimentamos hoje em cerca de 15% do eleitorado nacional é sinônimo absoluto de fanatismo. Em outras palavras, é a banalização da idolatria, cujo conceito é amor excessivo ou adoração exagerada por pessoas que se assemelham a divindades ou que simbolizam o sagrado e o divino.

O ídolo em questão é a prova definitiva da estupidez e da desinteligência de seus súditos. Aproveitador das coisas e das pessoas de Deus, o mito conhecido como engenheiro de obras prontas é ignaramente admirado por apoiadores cada vez mais distantes da civilidade, da distinção, da deferência e da cortesia. Assassino do guarda municipal Marcelo Arruda, o policial penitenciário federal Jorge José Guaranho não merece mais do que uma linha. Exemplo cristalino da descoberta do cientista britânico James Watson (pesquisador do ADN – ácido desoxirribonucleico e impulsionador do Projecto Genoma Humano), ele não é apenas reflexo de um baixo coeficiente intelectual, mas um doente genético, exatamente como todos que pensam e agem com a mesma violência.

São essas pessoas carentes de urgente tratamento psiquiátrico que querem perpetuar no poder um déspota semi-alfabetizado em política e sem nenhuma robustez social. Os marqueteiros e eleitores que fizeram da facada em 2018 um mote de campanha são os mesmos que agora, desesperados pela provável derrota do mito de barro, se utilizam de todos os recursos ilegais e hediondos para ganhar a eleição em outubro. É o vale tudo eleitoral. Invadir festa de aniversário para matar antagonista, jogar fezes em palestrantes ou plateias adversárias e “convocar” embaixadores para fiscalizar o sistema eleitoral brasileiro são apenas algumas das exigências de Jair Messias para tentar aniquilar seu principal oponente e transformar o Brasil em curral para pastagem de seus seguidores.

Repetindo o discurso presidencial pré-2018, a ordem superior é “fuzilar” não só os petistas, mas também os que, levados pela antipatia ao mito, simpatizam com o retorno da paz ao país. Embora saibamos de que se trata de uma lenda, o Diabo também deve ser convidado para virar o jogo. Quero dizer, derrotar Lula da Silva, que pode ter defeitos variados, mas nunca estimulou seus apoiadores a gestos tão abomináveis. É o projeto da vida dos bolsonaristas, cujo amadorismo é de berço. São tão amadores que, após três anos e sete meses de tentativas, jamais conseguiram vincular a facada de Adélio Bispo a políticos de oposição, especialmente ao PT. No entanto, com o número 22 na testa, o tiro que matou Marcelo Arruda tem identidade, CPF, endereço, atestado de bons e as cores sanguinárias do patriotismo bolsonarista.

Não sou de esquerda nem de direita. Sou do Brasil. É a partir desse conceito político que vinculo minhas posições a respeito do presidente da República. Eleito democraticamente, ele não consegue entender que perder faz parte do jogo. Na verdade, jamais tentou. Para que mais quatro anos? Para continuar fingindo que governa? Como faço corriqueiramente, indago a seus ensandecidos fãs o que ele fez de bom pelo país ou por seu povo nesse período? Não valem xingamentos, ameaças à imprensa e aos ministros do TSE e do STF ou a ladainha de que Lula é ladrão. O eleitor quer fatos, números. O brasileiro precisa voltar a ser reconhecido no mundo. Aliás, quantos mandatários estrangeiros já nos visitaram nesse período? Se você responder meia dúzia saiba que atingiu o grau necessário para avaliar o governo. Muito pouco para quem quer chegar ao Primeiro Mundo.

Essa união pelo caos no Brasil lembra um velho e sábio provérbio chinês. O medíocre discute pessoas, o comum discute fatos e o sábio discute ideias. E quais são as ideias daquele que nasceu e morrerá com a vontade de ser o que não é? Exclusivamente por conta da necessidade de aguardar a abertura das seguras e invioláveis urnas eletrônicas, prefiro usar as sábias máximas de Confúcio. “Minha experiência é uma lanterna dependurada nas costas”. Minha opção política sempre foi vestir a carapuça do idiota citado por Confúcio. Segundo o mestre chinês, “o maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que quer bancar o inteligente”. O guarda Marcelo Arruda não teve tempo de mostrar sua inteligência ao idiota Jorge José Guaranho. Esperemos pelos votos que o mito garante ter. Ganhar fora das quatro linhas será assumir a falta de tato para esse negócio chamado política.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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