Energia privatizada
Ter luz em casa vira privilégio dos momentos de humor do clima
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Na última segunda-feira, São Paulo foi surpreendida por uma forte chuva. Não é novidade. Sempre que chove forte, já sabemos o que vai acontecer em seguida: apagão em várias regiões. E não é coincidência. Quem mora em São Paulo e é cliente da Enel conhece esse roteiro: basta cair uma tempestade mais intensa e, pronto, a cidade fica no escuro.
Mas não deveria ser assim. Chuvas fortes não são exceção, não são fenômenos raros. Pelo contrário: elas fazem parte do nosso cotidiano, ainda mais em tempos de mudanças climáticas que deixam o clima mais imprevisível e extremo. Justamente por isso, as empresas responsáveis pela distribuição de energia precisam estar preparadas. Não digo que consigam evitar totalmente os impactos, mas, no mínimo, deveriam ter agilidade para reestabelecer a energia, reduzindo o transtorno para a população.
E vale dizer que este não é um problema exclusivo da Enel. Em Porto Alegre, onde morei por três anos, também vivi situações parecidas com a Equatorial, empresa responsável pela distribuição na região. Assim como em São Luís, onde tenho família, o fornecimento de energia sempre deixa muito a desejar: quedas frequentes, demora para reestabelecer o serviço e um atendimento que parece distante da realidade de quem estava no escuro. Ou seja, não importa o estado, a sensação é a mesma: as empresas privadas, que deveriam garantir um serviço essencial, falham repetidamente, e quem paga a conta somos sempre nós, consumidores.
Esse problema não começou agora. Há anos que enfrentamos esse tipo de situação. Porém, tenho a impressão clara de que, depois da privatização, tudo piorou. O tempo de resposta aumentou, a sensação de descaso cresceu. Fica evidente que o lucro vem sendo colocado acima da qualidade do serviço prestado. Enquanto isso, milhões de brasileiros pagam caro e continuam sendo tratados com descaso, à mercê do próximo temporal.
No fim das contas, o que deveria ser básico (ter luz em casa, no trabalho, no hospital, na escola) virou um privilégio sujeito ao humor do clima. E isso é inaceitável.