Terapia é divã onde construímos o dia-a-dia sem pressa e sem traumas

Faço terapia há mais de 10 anos. Não porque eu seja iluminada, equilibrada ou evoluída espiritualmente. Muito pelo contrário. Faço porque a vida exige mais da gente do que um bom café e uma dose de paciência conseguem dar conta. E porque aprendi, na prática, que a gente não precisa enfrentar tudo sozinha. Também não precisa estar no limite pra procurar apoio.

Nos últimos cinco anos, tenho me encontrado (virtualmente) com a mesma terapeuta. Nunca a vi pessoalmente, e, além do seu nome, sei que ela mora na Bahia. Ela me atende sempre com a mesma calma, a mesma escuta firme e generosa, mesmo quando eu chego com a alma parecendo um armário bagunçado.

Dia desses, fiquei pensando nas coisas que eu nunca disse, mas que gostaria que ela soubesse.

Por exemplo, que às vezes ela encontra um nome pra aquilo que eu estou sentindo e isso me dá uma paz inexplicável. Porque nomear a dor é como acender a luz num cômodo escuro: a gente deixa de tropeçar tanto.

Queria que ela soubesse também que eu penso nela durante a semana. Que tenho vontade de perguntar o que ela pensa de coisas banais, como se fosse uma amiga sensata que eu sei que não vai dizer “eu te avisei”, mesmo quando poderia dizer com todas as letras.

E que, quando ela lembra de algo que eu disse há muito tempo, sinto um calor no peito. Porque é como se ela dissesse, sem palavras, que a minha história importa. Que mesmo os detalhes esquecidos por mim, ela guardou com cuidado. Isso é raro e bonito.

Estou escrevendo tudo isso não só pra deixar registrado o quanto sou grata a ela, embora também seja. É porque eu gostaria que mais gente soubesse que terapia não é só um lugar pra desabafar. É um lugar pra se construir. Às vezes desconstruir também. Mas, sobretudo, é um lugar pra ser acolhida sem pressa e sem julgamento.

Se você está pensando em começar, eu digo: tente. Com paciência, com tempo, com quem te escute de verdade. Pode ser transformador. Pra mim, tem sido.