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Porto de Luz

TODO O AMOR

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Foto Jessica Denney

“Risque outro fósforo, outra Lua, outra cor / E não tem mais nada negro amor”
(Bob Dylan)

Nas avenidas, o cara lembrava de coisas estranhas aos cortes; fragmentadas.

Perambulava pelas calçadas tropeçando em pedras imaginárias.

Foi andando aí pela vida até se esmolambar e cair no beco.

Anos de andanças e chuvas e coisas da rua.

Passado o transe levantou-se do chão.

Fez a barba e cortou oi cabelo.

Meteu uma roupa decente, de “bacana” lá das bandas dos Jardins e voltou à porta da casa.

Bateu a Campinha.

— Boa tarde. Eu sou o o cara.

— Que cara?

— O cara que voltou.

— Espera, vou chamar a patroa.

Anos antes, o cara perambulou pela vida e jamais pensou um dia em chegar àquela porta.

— Quem é você?

— O cara.

— Que cara?

— Aquele que te ama e nunca te esqueceu.

A mulher teve um peripaco.

“Não pode ser. Não. Ele já morreu. Não é possível”

— Oi, sou eu mesmo.

— Mas o que aconteceu?

— É o que eu vim aqui te perguntar.

Passado o estranhamento, os dois entraram e sentaram frente a frente:

— É você mesmo?

— Sim, sou eu.

— Por onde você andou?

— Por aí.

Dias depois os dois estavam cantando canções lindas e lembrando de histórias impossíveis de terem acontecido.

Passaram-se os anos e eles morreram juntos.

Abraçados.

O amor é mesmo uma maluquice.

………………………….

Gilberto Motta é escritor e apaixonado por histórias de amores improváveis. Vive na Guarda do Embaú SC.

Foto Jessica Denney/Porto de Luz

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