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O homem de Brejinhos

Tonho, de volta às raízes, socorre sementes de fora

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Acervo Pessoal

Eu o conheci Antônio. Ou simplesmente Tonho, como a ele se referem parentes, funcionários, clientes e amigos. O encontro foi casual, produtivo, e nos transportou à Brasília da época das Vans, quando o então deputado-secretário Alberto Fraga iniciou uma caçada a um meio de transporte considerado equivocadamente por ele como pirata.

Tonho é empreendedor. Tem um atacarejo no lugarejo de Brejinhos, onde nasceu e saiu rapazola para tentar a sorte na ‘cidade grande’. Plantou sementes e colheu doces frutos na capital da República. Mas, com o tempo, a saudade apertou. E decidiu voltar para sua cidade natal.

Menino que sonhava com os pés no chão, Antônio cresceu e viu-se rapaz na efervescência cinética da cidade grande. Para ele, o concreto era o solo onde suas raízes se firmavam, os arranha-céus eram as montanhas que desafiava todos os dias, e o ritmo frenético das ruas era a sinfonia que embalava seus passos.

Porém, como acontece com muita gente, Tonho começou a sentir um chamado, uma voz sussurrante vinda de suas memórias mais profundas, clamando por um retorno às suas origens, à cidadezinha pacata onde deixara o coração anos atrás.

A decisão não foi fácil. Ele ponderou sobre as oportunidades perdidas, as conexões rompidas, e as comodidades da vida urbana. Mas, no fundo, algo o impelia a regressar, como se suas raízes estivessem chamando por ele, necessitando de sua presença para florescer novamente.

Assim, com um misto de nostalgia e expectativa, Antônio partiu de volta para sua cidade no sertão baiano. Ao chegar, foi recebido pelos abraços calorosos dos amigos de infância e pelos sorrisos acolhedores dos vizinhos de longa data. Aos poucos, ele se viu imerso em uma atmosfera de familiaridade e simplicidade, onde o tempo parecia fluir em um ritmo mais suave.

Os dias passaram e Antônio redescobriu os encantos de sua terra natal. Percorreu as ruas tranquilas, agora revestidas com a poesia das memórias antigas. Revisitou os lugares que marcaram sua infância e parte da juventude, onde cada esquina guardava uma história e cada paisagem evocava uma emoção única.

Na cidade pequena, ele encontrou uma nova perspectiva sobre a vida. Descobriu a beleza nas coisas simples, como o pôr do sol pintando o céu de tons dourados sobre os campos verdejantes, ou o som suave da chuva batendo nas folhas das árvores. Aprendeu a apreciar o valor das relações humanas, onde cada cumprimento na rua é mais do que um gesto de cortesia. É o elo que liga as pessoas em uma teia de solidariedade e apoio mútuo.

No entanto, nem tudo foram flores em sua jornada de volta às raízes. Tonho enfrentou desafios e obstáculos, como a falta de oportunidades comparadas à cidade grande, ou o choque cultural ao se readaptar a um estilo de vida mais tranquilo e comunitário. No entanto, cada dificuldade era superada com a força que ele encontrava em suas origens, no amor e na união daquele pequeno vilarejo que ele chama de lar.

Com o tempo, Antônio percebeu que seu retorno não era apenas uma viagem física, mas uma jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. Ele havia encontrado um equilíbrio entre suas raízes urbanas e sua essência rural, uma harmonia entre o passado e o presente, que o ajudava a cultivar um futuro mais promissor.

E assim, enquanto o mundo continuava girando lá fora, Tonho encontrou sua paz interior entre as ruas tranquilas e os campos verdejantes de Brejinhos, onde seu corpo e mente se entrelaçam com a história daquele lugar, formando um elo indissolúvel que o liga, agora para sempre, à terra onde tudo começou.

Em sua passagem por Brasília, Antônio aprendeu a empreender. Em Brejinhos, localidade cortada pela BR 242, ele colocou em prática as lições da ‘cidade grande’. Longe da ‘selva de pedras’, ele ergueu um atacarejo rodeado de cactos, de parentes e amigos. Lá ele mantém sua distribuidora Serra Negra. Para o pequeno, mas pujante povoado, é um verdadeiro shopping-center. Popular entre os cerca de 1 mil 500 moradores da localidade, ele não pensa em fazer carreira política.

Seu futuro, diz, é plantar sementes e viajar pela Chapada Diamantina, região rica em flora e fauna, como a paradisíaca Lençóis.

– Não quer ser prefeito da cidade? Não quer ser vereador?!, indago, surpreso com a popularidade dele.

E Antônio responde, sorrindo: “Posso ajudar sem ter mandato. Até quem não vota aqui eu socorro, quando possível”, acentua, com uma gargalhada, enquanto dá um jeito, com parafusos e arames, no para-lamas traseiro direito e na tampa do porta-malas, danificados em um quebra-molas, quando um motorista, ao volante de um Voyage sem freios, teve como única alternativa para parar, ir contra a traseira do meu Sentra.

– Quanto lhe devo, Antônio?!, perguntei antes de despedir-me.

– Nada. Amigos ajudam como e quando podem. Já o tenho como amigo. Siga a viagem tranquilo. E quando precisar, lembre-se que em Brejinhos tem um Tonho pronto para servir no que for possível.

Tonho está certo. Logo volto lá. Do pouco que entendo, procurarei auxiliar na criação de uma Associação de Moradores. É um dos sonhos dele. Democrata convicto, ele acredita que, unido, o povo consegue arrancar de políticos as promessas que costumam ficar mofando em gavetas.

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