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Fim do Novembro Azul

Toque prematuro na próstata que não fi-lo porque não qui-lo

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Até chegar ao negro e dolorido do agora no fim Novembro Azul de 2023, isto é, da era pós-mito, enfrentei situações adversas, pitorescas, bizarras e absolutamente fora do contexto de um ser humano considerado normal. Ainda não morri, mas já sei que, independentemente de onde estivermos, o cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima.

A história de cada um está escrita nas estrelas. E não adianta fugir. É como no caso remoto de um estupro de homem para homem: quanto mais se reage, mais o trem esfola. E tenham certeza de que não é uma linguagem metafórica. Por isso, recomendo que não tentem esse tipo de situação em casa. Depois de esfolado, o cara nunca mais volta ao tamanho normal.

Afirmo que a narrativa não é autobiográfica. Obviamente que minha quase primeira experiência dedatória não é pública. No entanto, seletivamente ela deve ser lembrada como algo tão ou mais importante do que a lavagem cerebral sofrida por aqueles cidadãos denominados patriotas e que até hoje acreditam na inocência condenatória do líder.

É claro que, por não conhecer a necessidade de todas as mazelas impostas a um macho alfa, fugi antes do ato consumado. Não me arrependo, porque meu contato de terceiro grau ocorreu exatamente no momento em que me sentia predestinado à iniciação maculatória e colunoscópica do chamado fim do intestino grosso.

A fase já era a da pré-velhice. Foi aí que me veio à memória o introito da caminhada de anos de introcável masculinidade. Ainda vestibulando da Vila Mimosa, um grande centro do Rio de Janeiro dedicado à prática da saliência informal, fiz a circuncisão com um difamado cirurgião judeu. Doutor Valdemiro Cipó estava longe de ser uma sumidade no assunto, mas era o que tínhamos no longínquo subúrbio de Campo Grande.

Aliás, acho que o tal médico nem judeu era. Talvez fosse um desses palestinos que, com medo do Hamas, fugiu para Domingos Martins, região serrana do Espírito Santo, de onde pretendia montar trincheiras contra Bibi Messias e, de lá, trabalhar silenciosamente pela criação do sonhado estado.

Como o Zé ficou bem parecido com uma bigorna, mais tarde fui obrigado a recorrer aos préstimos de uma benzedeira do bairro para concluir o trabalho e, quem sabe, tentar recolocar o moço nos trilhos. Mãe Tiana de Qualcutá tentou de tudo. Não deu certo. Parece que aquele ditado pau que nasce torto, morre torto foi feito sob encomenda para mim. Paciência.

O fato é que, apenas com o diploma do Madureza, dona Tiana nas horas vagas empresariava e emprestava seus conhecimentos manuais às “donzelas” das maquiadas casas de saliência para iniciantes. Além de esconder o casario das esposas desconfiadas, a maquiagem também servia para tapear as rugas, as varizes de duas a três polegadas e as estrias do tipo PVC das serviçais.

Foi ali que, depois de muita relutância, topei fazer o procedimento de fimoseterapia. A ideia era melhorar o enrosco em que me meteu o doutor Valdemiro Cipó, o mesmo que, por muito pouco, não me atirou na vida mundana dos jovens prematuramente sem a prega rainha. Sorte que fiquei no quase. Diria que faltou um dedo.

Talvez não fosse o sujeito que sou caso tivesse sucedido o tocamento retal antes da idade recomendada. Tudo bem que, mesmo desconhecendo o desfecho do contato com um robusto e afiado dedo médio encharcado de vaselina, fi-lo por qui-lo. Evitei-lo porque soube a tempo que o misto de duela e prazer só atinge a quien quer que le duela.

Na verdade, estou exagerando, pois a dedada que não se consumou foi somente um pesadelo de verão. O que eu realmente tinha não merecia a importunação, tampouco a posição fetal. Tratava-se de um desconforto comum aos machos com horror freudiano ao verbo sentar. Nunca tive coceira, inchaço, sangramento, inflamação, fissuras ou irritações no aparelho gastrointestinal.

Pela ausência desses sintomas, hoje tenho certeza de que, se tive alguma coisa, foi apenas uma sensação de calombo. Portanto, impunemente macho e comprovadamente alfa, afirmo que vou morrer sem saber se a suposta hemorroida era de flor ou de botão.

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