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Chocolate

TPM é monstro que ouve Tim Maia na voz de Marília Mendonça

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@donairene13 - Foto Produção Editoria de Artes/IA

Ao contrário da maioria das mulheres, não encaro a TPM como esse monstro de sete cabeças que todo mundo descreve. Quer dizer, ela é um monstro. Mas talvez um monstro sensível, que escuta Marília Mendonça, chora vendo o comercial do Itaú e escreve textos tocantes às 3h da manhã. A verdade é que a TPM é péssima, mas minha personalidade tem esse defeito (ou seria qualidade?) de sempre procurar o lado bom até nas piores situações. Um otimismo forçado, quase teimoso. Uma espécie de Pollyanna com cólica.

Durante a TPM, eu fico mais sentimental, é verdade. Me emociono com facilidade. Já chorei vendo um vídeo de um cachorro reencontrando o dono, já chorei relendo os textos que eu mesma escrevi, já chorei vendo fotos da minha filha quando era recém-nascida. O problema não é chorar. O problema é onde e quando. Eu já chorei no trânsito, ouvindo uma música que nem era triste. Já chorei na fila do mercado, porque um moço deixou uma senhora passar na frente. E eu nem era a senhora. Era só espectadora do ato de bondade. Um filme da Pixar vira tragédia grega. Uma propaganda da Vivo, manifesto existencial.

Mas, veja bem, nem tudo está perdido. Toda essa sensibilidade exagerada tem lá seus frutos. Eu produzo ótimos textos nessa fase. Textos que parecem ter sido escritos por uma mistura de Clarice Lispector com uma adolescente de 14 anos apaixonada. Eu fico profunda, intensa, quase dramática. Minhas vírgulas suspiram. Meus parágrafos têm alma. É como se meu útero fosse uma usina de conteúdo sensível.

Na TPM sou quase uma poeta romântica do século XIX — só que de moletom, com uma espinha no queixo e vontade de comer um docinho. Porque sim, TPM também é isso: um festival de vontades alimentares que beira o crime nutricional. Já preparei um sanduíche com cinco queijos diferentes e lágrimas como molho.

Então, sim, TPM é ruim. É um caos hormonal disfarçado de humanidade. Mas, entre um soluço e outro, entre uma explosão de raiva e uma crise de ternura, eu produzo verdadeiras obras-primas emocionais. Talvez meu sofrimento seja só uma desculpa estética. Talvez eu só precise de um motivo mensal pra me lembrar que, no fundo, sou uma artista dramática — com cólicas, mas artista.

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