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Toma lá... dá cá

Traição do Congresso a Lula pode ser vista como ‘revolta das emendas’

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Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile/Via MST - Foto Paulo Pinto/ABr

Mais do que o fim do casamento entre o governo e os presidentes da Câmara e do Senado, a nova derrota do Planalto no Congresso teve requintes de crueldade. Hugo Motta e Davi Alcolumbre sabiam que o governo contava com o esvaziamento do parlamento por conta das festas juninas para ganhar tempo e contornar o impasse em torno do projeto do IOF. Os dois não apenas convocaram a votação com sessão virtual, sem a necessidade da presença dos parlamentares em Brasília, como o governo só soube da decisão pelas redes sociais.

Para temperar, a relatoria do projeto foi entregue ao PL e a maior parte dos votos veio de partidos com ministérios. Isso tudo depois do Planalto acelerar a liberação de emendas, empenhando mais R$831 milhões, totalizando a liberação de quase R$2 bilhões neste ano, e depois de ceder aos interesses de Alcolumbre na exploração de petróleo na foz do Amazonas. Mesmo assim, no centro da revolta está o descontentamento dos parlamentares com a velocidade na liberação das emendas.

Além de escancarar a fragilidade da articulação política do Planalto, a situação também leva o governo a um beco sem saída. A promessa de retaliar com o bloqueio de emendas parlamentares soa mais como bravata. Afinal, se com elas o governo não aprova nada, sem elas, a possibilidade de ficar definitivamente paralisado é enorme. O mesmo vale para a possibilidade de judicializar a decisão do Congresso, que seria mais uma demonstração de fraqueza do que de força, transferindo para o STF a responsabilidade pelo embate sem nenhuma garantia de vitória, além de atestar o esgotamento da capacidade de negociação com o Congresso.

Sem mexer nos tributos e estrangulado pelo arcabouço fiscal, vai sobrar ao Planalto fazer exatamente o que a Faria Lima deseja: cortar nos gastos sociais. Melhor ainda para Tarcísio de Freitas, que além de ver um governo sangrando e com medidas antipopulares às vésperas do ano eleitoral, ainda vê o clamor cada vez mais forte das bases bolsonaristas, como o agronegócio, pela sua unção como candidato da direita.

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O Boletim Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile para o MST

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