Tarifaço
Trégua entre EUA e China é um alívio temporário ou cortina de fumaça?
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O anúncio de uma trégua de 90 dias na guerra comercial entre Estados Unidos e China soa, à primeira vista, como uma boa notícia. Afinal, desde que as duas maiores economias do planeta começaram a escalar tarifas em um duelo de egos e poder geopolítico, o mundo inteiro sentiu os tremores: mercados instáveis, cadeias de suprimento abaladas e investidores pisando em ovos.
De acordo com a declaração conjunta, os EUA vão reduzir suas tarifas sobre produtos chineses de estratosféricos 145% para ainda pesados 30%. A China, por sua vez, diminuirá de 125% para 10% os impostos sobre bens americanos. É um alívio? Sim. É suficiente para retomar o fôlego do comércio bilateral? Longe disso. Ainda estamos falando de barreiras comerciais elevadas que, mesmo com as reduções, mantêm o comércio entre os dois países em ritmo lento e cauteloso.
O acordo, costurado em Genebra, sugere mais uma tentativa de ganhar tempo do que uma verdadeira reconciliação. Ambas as partes saem momentaneamente bem na foto: Biden pode dizer que arrancou concessões de Pequim; Xi Jinping, por sua vez, demonstra flexibilidade sem ceder totalmente. É o típico gesto diplomático que agrada aos mercados no curto prazo — mas que pode se desfazer à primeira divergência.
Mais do que números, a nota conjunta revela uma disputa por protagonismo no novo tabuleiro econômico global. A criação de um “mecanismo de diálogo permanente” é protocolar, mas serve para manter as aparências de cooperação. Os nomes à frente das conversas, como o Secretário do Tesouro Scott Bessent e o Vice-Premiê He Lifeng, indicam que as negociações continuarão em alto nível — o que, por si só, já é um sinal de que os dois lados não querem romper totalmente os canais.
Ainda assim, a pergunta que paira no ar é: o que acontece no 91º dia? Sem mudanças estruturais e compromissos de longo prazo, o risco é vermos essa trégua virar apenas mais um intervalo entre rodadas de retaliações. Enquanto isso, o mundo assiste, mais uma vez, a uma disputa entre gigantes que têm o poder de empurrar (ou salvar) a economia global — dependendo do humor da próxima reunião.
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Dora Andrade é Editora de Economia de Notibras
