Lupa embaçada
Trump usa Bolsonaro só para monitorar o Brasil
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Às vezes me pego tentando alcançar os pensamentos de Donald Trump, o popular espantalho da Fandangos. Nessas minhas elucubrações, sempre o vejo defronte ao espelho se aproveitando da frase da Rainha Má do filme Branca de Neve e os Sete Anões: Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais poderoso do que eu? Poucos têm coragem de dizer, mas Trump faz parte daquele grupo de pessoas infinitamente pequenas, mas com um orgulho infinitamente grande. Ele é do tipo com muito mais ego do que personalidade.
Por consequência, o imagino com mais imagem do que essência. Tivesse a oportunidade de ter um tête-à-tête com o dito cujo, lhe diria que, no corpo em que reside o narcisismo, a sabedoria jamais encontrará abrigo. Sei que minha tese não teria qualquer importância. No entanto, quem sabe ele, do alto de sua alcova sem luxúria, não perceberia que a vaidade é fundamental somente para aqueles que não têm outra coisa para exibir.
Vale lembrar que um homem com esse perfil é capaz de tudo, inclusive de simular boas atitudes quando o interlocutor pode significar qualquer tipo de dividendo. O último encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, refletiu a pequenez do presidente norte-americano. Inimigo figadal do czar russo, Trump temporariamente esqueceu que não é um gentleman e recebeu Putin com tapete vermelho e show militar.
Não fez isso com o ucraniano Volodymyr Zelensky e sequer telefonou para Luiz Inácio para informá-lo sobre o tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Isso quer dizer que ser valentão com os pequenos é fácil. Apesar dos salamaleques, a reunião entre os dois potenciais presidentes terminou sem acordo. Se também pudesse ter um tête-à-tête com Lula, diria que ele tem razão em não procurar Trump, pois é tempo perdido fazer acordo com ele.
Por isso, em minhas divagações quase diárias, me pergunto porque tanta celeuma com a revogação dos vistos norte-americanos? Há tantos países lindos esperando por nós brasileiros. Aproveitemos a oportunidade. Eu digo, até posso afirmar, que hoje vivemos melhor sem os EUA na nossa cola. Donald Trump e seus seguidores sabem que estão perdendo a hegemonia mundial. Países com séculos de dependência econômica e industrial ressurgiram das cinzas e, em breve, lhe tomarão o papel de astro principal do palco mundial.
No caso do Brasil, além da força dos Brics, o que mais o espantalho da Fandangos teme é a decisão do Supremo Tribunal Federal em regulamentar o funcionamento das big techs em território brasileiro. Conforme afirmação recente de Frei Betto, “as big techs são os olhos e ouvidos dos EUA. Elas querem fazer a cabeça dos usuários, espioná-los, captar seus perfis como consumidores, esquadriar suas preferências políticas”. Tudo isso para dizer que a defesa de Jair Bolsonaro não passa de cortina de fumaça. Trump usa o ex-presidente golpista, mas sua verdadeira intenção é não perder o Brasil de vista.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
