O homem e os peixes
Um gesto simples que revela o nosso lado mais humano
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Hoje, na minha corrida matinal, vi um gesto que parecia pequeno, mas que trazia em si a grandeza do ser humano. Um homem, com calma quase sagrada, lançava alimento aos peixes do lago. O pão que se desfazia na água, os cardumes que emergiam em festa, o tempo que parecia suspenso.
Pensei em como a Antropologia nos ensina a olhar: não apenas para o ato em si, mas para o seu significado profundo. Alimentar os peixes não é apenas dar-lhes sustento; é estabelecer uma ponte entre mundos. É reconhecer que a vida pulsa também fora da nossa pele, e que há beleza em partilhar com o que não fala, mas responde em movimento.
Era quase um ritual. Como nos ensinou Mauss, há dádivas que circulam e nos ligam uns aos outros o homem oferece, os peixes retornam em dança aquática, e quem observa recebe o dom da cena. Um ciclo de reciprocidade invisível, mas plenamente sensível.
Naquele instante, compreendi que a corrida não era apenas exercício do corpo. Era também exercício do olhar, do espírito, da atenção ao que é singelo e, por isso mesmo, grandioso. Vi beleza no gesto anônimo, na ternura silenciosa que alimenta não só peixes, mas também esperanças.
E segui meu caminho sentindo que talvez a Antropologia seja isso: aprender a correr com os olhos, a perceber o extraordinário no ordinário, a colher poesia nos gestos que parecem banais, mas que revelam o quanto o humano pode ser imenso na sua simplicidade.