Os nordestinos
Um povo de alma arretada e dono de um coração quente
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Dizem que o Nordeste é só seca, sol rachando e poeira levantando na estrada. Besteira. O Nordeste é um mundo inteiro escondido num gesto, num “oxente” bem dado, num “visse?” que fecha a frase com a segurança de quem sabe o que tá dizendo.
O nordestino tem uma alma arretada, daquelas que não abaixam a cabeça nem quando o destino teima em botar tropa de pedra no caminho. Quando a vida aperta, ele não geme: regaça as mangas e diz “num se avexe, não… a gente dá um jeito”. E dá mesmo. Dá porque aprendeu cedo que coragem não é ausência de medo — é catinga no peito e esperança no bolso, mesmo quando o bolso tá vazio.
O coração do nordestino é quente como o meio-dia de janeiro, daqueles que fazem a gente procurar sombra só pra respirar. Mas o calor que mora dentro dele é de outra natureza: é calor de abraço demorado, de café passado na hora pra quem chega, de conversa na calçada até mais tarde, deixando o tempo correr devagarinho, como quem respeita o compasso da vida.
Na feira, o cheiro de coentro se mistura à prosa animada. “Chegue mais, minha fia, isso aqui tá fresquinho!” — e ali, entre abóboras, melancias e risos, o Nordeste pulsa, vivo como cantoria de vaqueiro no amanhecer. No mercado, se alguém tropeça, logo vem um “ôh de casa! Tá tudo bem aí?”. Aqui ninguém é estranho — é só alguém que a gente ainda não conhece.
E quando o sol começa a baixar, pintando o céu de um vermelho danado de bonito, o sertanejo olha pro horizonte com aquela firmeza que só quem já enfrentou muita coisa sabe ter. “Amanhã é outro dia. Oxe, e vai ser melhor.”
Porque o nordestino não tem só força. Tem fé danada, teimosia boa e um jeito de amar sem medir. Se entrega, se doa, se apaixona por tudo: pela terra, pela rua, pela família, pelo que acredita. E quando ama, ama do jeito mais bonito: com raiz, com verdade, com o coração todo.
Assim é o povo daqui: arretado de alma, quente de coração — e capaz de transformar até a maior dificuldade em história pra contar.