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Forró

Um ritmo que mexe com o nordestino o ano inteiro

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Autor/Imagem:
Júlia Severo - Foto Divisão de Artes/IA

Mais do que um ritmo musical, o forró é um modo de vida, um traço marcante da identidade nordestina e uma das expressões culturais mais fortes do Brasil. Nascido no sertão, forjado na luta e embalado pela alegria do povo, o forró atravessa gerações, se reinventa e continua sendo símbolo de pertencimento, resistência e celebração no Nordeste.

O forró tem origem no século XX, no interior do Nordeste, especialmente no sertão de Pernambuco, Paraíba e Ceará. Com influências de ritmos europeus, indígenas e africanos, como a polca, o xote e o coco, o forró se consolidou como um gênero musical próprio, principalmente por meio do trio nordestino clássico: sanfona, zabumba e triângulo.

Mas foi com Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, que o forró ganhou o Brasil. Nascido em Exu (PE), Gonzaga elevou o gênero à categoria de símbolo nacional, cantando as dores, a fé e a esperança do povo nordestino em músicas como Asa Branca, A Vida do Viajante e Assum Preto.

“Sem Luiz Gonzaga, o forró talvez não tivesse ganhado o reconhecimento que merece. Ele levou a alma do sertão para os palcos do país”, afirma o historiador musical Eduardo Lima.

O forró não é apenas música — é dança, festa, união. Das cidades grandes às pequenas comunidades rurais, o forró está presente nos arraiais juninos, nos forrobodós de final de semana, nas feiras, nos aniversários e nos encontros familiares.

Dançado de rosto colado, com passos marcados e muito sentimento, o forró promove encontros e aproxima as pessoas. É também uma expressão afetiva da cultura nordestina: um espaço onde jovens e idosos, ricos e pobres, todos dançam juntos.

“O forró é o nosso abraço em forma de música”, define dona Lindalva, 67 anos, forrozeira de Campina Grande (PB).

Com o passar do tempo, o forró se dividiu em vertentes. O forró pé de serra, mais tradicional, continua vivo em festas e festivais. Já o forró eletrônico e o universitário conquistaram novos públicos com o uso de guitarras, teclados e letras mais urbanas. Nomes como Wesley Safadão, Aviões do Forró e Solange Almeida ajudaram a popularizar o ritmo em todo o país.

Apesar das mudanças, muitos artistas buscam manter viva a essência original. Bandas como Falamansa e Os 3 do Nordeste, além de artistas contemporâneos como Flávio José e Elba Ramalho, são exemplos de quem equilibra tradição e inovação.

Em 2021, o forró foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em reconhecimento à sua importância para a formação da identidade brasileira, em especial nordestina.

“É um reconhecimento oficial de algo que o povo já sabia: o forró é nosso orgulho e nossa história”, celebra o sanfoneiro cearense Edmundo Xavier.

Além de arte, o forró é ferramenta de resistência. Em um país marcado por desigualdades regionais, ele dá voz ao povo nordestino, denuncia a seca, o abandono e a luta diária do sertanejo. É a prova viva de que a cultura nordestina não se dobra, não se apaga.

Em tempos de globalização e música comercial, manter viva a tradição do forró é também um ato político e cultural. Festas como o São João de Caruaru (PE), o São João de Campina Grande (PB) e o Festival de Itaúnas (ES) mostram que o forró segue forte — nos palcos, nas praças e nos corações.

Mais do que um ritmo, o forró é identidade, história e sentimento. Ele traduz a alma nordestina em cada acorde da sanfona, em cada batida da zabumba, em cada passo na sala de reboco. É resistência que se canta, tradição que se dança, e cultura que nunca deixa de pulsar.

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