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A Praça de São Pedro

Um Templo a Céu Aberto entre a Alquimia, o Ocultismo e a Luz Solar

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e Imagem

Há lugares que não se deixam apenas ver, é preciso senti-los. Onde cada pedra parece guardar um segredo e cada sombra parece ter memória. A Praça de São Pedro é um desses espaços encantados, onde o sagrado se entranha no chão e sobe pelas colunas como um incenso invisível. Ali, no coração de Roma, fé e mistério dançam sob a luz do sol em um palco de mármore e silêncio. Aos olhos do peregrino, ela é a antessala da eternidade, o espaço onde a terra toca o céu e os passos se tornam oração. Acolhe os fiéis como quem recebe filhos que voltam ao lar.

Mas, por trás desse gesto de ternura e grandiosidade cristã, há uma arquitetura que também fala na linguagem dos símbolos antigos, da astrologia sagrada, dos alinhamentos solares e da geometria divina. Uma miríade de símbolos cósmicos onde o espaço se abre como um livro sagrado.

Te convido a contemplar a praça como um templo a céu aberto, onde o cristianismo triunfante e os ecos do antigo esoterismo caminham lado a lado. Uma ode à pedra e ao espírito, à luz e à palavra, à alquimia dos espaços sagrados que transformam não apenas o mundo, mas também a alma que os contempla. Projetada pelo gênio visionário de Gian Lorenzo Bernini, essa praça é uma mandala de pedra e luz. No centro, um obelisco egípcio ergue-se como um eixo do mundo alinhado ao céu e ao sol, projetando sua sombra como um ponteiro de um relógio eterno. Antigo guardião dos mistérios solares, ele fala a linguagem dos astros. Não é coincidência que o chão da praça abrigue discretamente um zodíaco oculto, alinhado com os ciclos celestes.

A cosmologia antiga tantas vezes descartada como superstição aqui se entranha nos alicerces da cristandade, onde os antigos deuses sussurram seus símbolos sob a bênção da cruz. A luz que escorre pelas colunas ao amanhecer e ao entardecer não é apenas espetáculo, é um rito cósmico. É alquimia luminosa. Como nos antigos templos solares, a geometria da praça foi calculada para que o tempo se tornasse visível, e o sagrado, palpável. Em cada equinócio, em cada solstício, a praça inteira parece respirar com o cosmos. E assim, o cristianismo e a tradição esotérica se encontram em silêncio, como velhos amigos que se reconhecem sem palavras.

A Praça de São Pedro é o ponto de intersecção entre dois mundos. O da fé dogmática e o da sabedoria simbólica, o da oração e o da contemplação, o da cruz e da estrela. Uma jornada por esse território sagrado, onde os mapas do céu foram gravados no mármore e onde cada passo pode ser o início de uma transmutação, é um hiato temporal. Pois ali, entre colunas e símbolos existe um espaço onde o tempo se curva diante do Mistério. Como a agulha de um compasso divino ergue-se um obelisco de mais de 25 metros de altura consagrado ao Deus Sol.

Removido à época do Egito Antigo, onde já servia como marcador solar nos templos de Heliópolis, ele carrega consigo o símbolo da eternidade e do eixo que liga o céu à terra. Seu topo é adornado por uma cruz que, segundo dizem, contém uma relíquia da verdadeira Cruz de Cristo, encerrando ali um paradoxo sublime: a união entre o Egito dos Faraós e o Calvário do Redentor. Alinhado com precisão transforma-se em um relógio de sol monumental e sua sombra percorre a praça como uma agulha que costura o tempo ao espaço sagrado. A Luz dos mundos antigos egípcios foi reconduzida à Luz de um novo mundo, o cristão.

Tal como um gigantesco relógio litúrgico, no qual o Sol, símbolo de Cristo ressurreto, marca um calendário sagrado. Sua sombra toca com precisão as marcas zodiacais nos dias específicos, recordando aos iniciados que o tempo litúrgico não é arbitrário. Ele é cósmico! É o tempo de Deus, regido não por números, mas por luz e sombra, por auroras e crepúsculos.

Atravessando a praça, sob nossos pés repousa um zodíaco. Não um pagão, mas cristianizado, reconfigurado, oculto em plena vista. Nas pedras do chão, marcas discretas de círculos e estrelas indicam os pontos cardeais, os solstícios, os equinócios e os dias santos do calendário cristão. Uma cosmografia esculpida no chão do Vaticano. Gravado no chão como quem semeia mistérios, ele liga a fé dos antigos às promessas do Novo Testamento.

Ao redor do obelisco central há doze marcas discretas compondo um círculo cósmico, representando os signos zodiacais, que narram as etapas da peregrinação da alma. Bernini, ao desenhar a praça, resgatou um saber ancestral, a narrativa cósmica de histórias, a história do Cristo, como Sol Invencível, atravessando as casas do mundo para redimir o tempo. A Igreja jamais negou a existência dos astros. Mas, combateu o quanto pode, que sua linguagem fosse ouvida na urbe et orbe. Aqui, esse saber ecoa sob os pés dos fiéis. O zodíaco marca os tempos santos: a Páscoa, a Epifania, o Pentecostes. Todas as festas dançando conforme o balé celeste.

Todas as festas ajustadas à dança cósmica. Na tradição alquímica, isso é o que se chama de “coniunctio”: a união do Céu e da Terra, da carne e do espírito, do visível e do invisível. Definindo a área existem 284 colunas que não são meros suportes arquitetônicos. Dispostas em quatro fileiras formam duas semi-elipses e seus focos, um visível com o obelisco egípcio ao centro e um oculto, dentro da Basílica de São Pedro.

Traçados que lembram braços simbólicos que envolvem o espaço com a delicadeza de um arquétipo materno, como uma mãe cósmica que acolhe seus filhos ao regaço. Seu abraço de pedra não é só uma metáfora afetuosa, mas a demonstração da força e da contenção dos dogmas e crenças. É também uma representação hermética do axis mundi, a “coluna do mundo”, símbolo universal de ligação entre o alto e o baixo. Cada coluna, como um hierofante silencioso, sustenta não apenas o peso do céu arquitetônico, mas também a memória de um saber antigo, transmitido de iniciados para iniciados.

O colunato não apenas abriga os fiéis; ele os educa, os alinha, os conduz. Quem caminha por suas passagens sente, mesmo sem saber, a força de um compasso invisível guiando seus passos. Geométrica e alquimicamente, o plano da praça, lembra um caduceu. Essa construção dialoga com os princípios da proporção áurea e da harmonia pitagórica, conceitos que, para os místicos renascentistas, revelavam as impressões digitais de Deus. A praça é um círculo mágico esculpido em mármore, uma estrutura esotérica codificada em pedra, um gesto teológico esculpido com precisão geométrica.

A praça pode ser tudo, menos inocente. Esse arranjo remete ao conceito alquímico da dualidade reconciliada, o Sol e a Lua, o espírito e a matéria em dança harmônica. Neste cenário, se corações e mentes entrarem em ressonância com a geometria sagrada, seremos involuntariamente guiados pela luz, tal um rito de passagem. Saímos do mundo profano e somos acolhidos no sagrado. Não é só arquitetura. É liturgia alquímica mineral. Parafraseando Fulcanelli: “Tudo está ali, mas velado sob os símbolos. Só o verdadeiro alquimista perceberá que o templo fala.”

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Marco Mammoli, mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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