Fux, o charmoso
Uma ação séria que vira comédia com advogados
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Sobrevivemos ao primeiro dia de julgamento de Bolsonaro e demais réus da tentativa de golpe de Estado. Para alguns, essa primeira parte pode parecer um tanto enfadonha, cheia de formalidades jurídicas e leituras técnicas. Para mim, ao contrário, tem um sabor quase cômico. É o momento em que, além do relatório da ação penal e da acusação da PGR, começa o verdadeiro espetáculo: a sustentação oral dos advogados. Cada um sobe à tribuna carregando não só seus argumentos, mas também uma performance pessoal que, às vezes, beira o surreal.
Foi nesse palco que ouvimos declarações inusitadas. Teve advogado que, sem o menor pudor, disse que o ministro Fux é atraente. Outro, mais poético, fez comparações inusitadas sobre a beleza do ministro Dino e da ministra Cármen Lúcia. Um terceiro, eclético até a raiz, declarou simpatia por Bolsonaro e ao mesmo tempo pelo ministro Alexandre. E ainda houve quem prometesse cigarros para Bolsonaro na cadeia.
Eu assisti a tudo isso como quem acompanha uma peça de teatro improvisada: rindo, refletindo e, de certo modo, aliviada. Porque, no fundo, esse julgamento é sério, é histórico, é decisivo para o país. Mas a teatralidade dos advogados, com suas frases de efeito, exageros e devaneios, acaba tornando o peso do processo mais digerível. Enfim, sobrevivemos ao primeiro dia. Que venham os outros e que o espetáculo continue, porque justiça também pode ter seus atos tragicômicos.