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Dona Irene

Uma aula sobre o que é dor e sofrimento

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Acervo Pessoal

Há os que afirmam que ela nasceu em Teresina, se bem que, parece, logo se mudou para Caxias. Por conta dessa disputa entre essas duas cidades tão próximas, ora dizem que é piauiense, ora afirmam categoricamente que é conterrânea de Gonçalves Dias. A verdade, talvez, esteja muito além da certidão de nascimento da Dona Irene.

Essa mulher, bem antes de entrar para a escola, já sabia ler, graças aos ensinamentos de seus pais, que visualizaram algo a mais na caçula. Além da inteligência bem acima da média, a então pequena Dona Irene já demonstrava uma capacidade incrível de memorização. Isso, aliás, ela gosta de afirmar, até com certa modéstia, é algo comum.

Talvez ela imagine que saber de cor e salteado poesias quilométricas de Fernando Pessoa, hinos de vários times de futebol e, pasmem, a carta de despedida do Getúlio Vargas sejam coisas que a maioria das pessoas domina.

Tirando esse talento para decorar tantas coisas, a Dona Irene é o que se pode chamar de concurseira nata. Pois é, provavelmente ela tenha sido picada pela mosquinha do concurso público, já que morou por um tempo em Brasília. Passou em vários!!! Mas não pense que a vida dessa mulher foi fácil desde sempre. Ledo engano! Ela teve que ralar muito em uma famosa rede de lanchonetes enquanto estudava.

Pois foi justamente por conta da sua aprovação em mais uma dessas provas que fez, que ela foi morar em Porto Alegre no finalzinho de 2021. Apesar da distância da família, a Dona Irene se apaixonou pela cidade gaúcha, onde foi muito bem acolhida. Ela gosta de dizer que se sente em casa em Porto Alegre, mas, plagiando o poeta, não se pode afirmar que tudo são flores.

Em uma das viagens a trabalho da Dona Irene, eis que ela foi para Caxias do Sul. Tudo corria bem, até que ela atendeu um dos funcionários. O homem estranhou o sotaque da Dona Irene e a questionou de onde ela era. Ela respondeu que era do Piauí, quando, então, o tal funcionário perguntou por que ela não voltava para a terra dela, já que ali não era o seu lugar. A Dona Irene, do alto do seu 1,60 m, respondeu: “Aqui é a minha terra também e ninguém me tira daqui!”

Outra situação que essa mulher incrível passou foi justamente comigo. Pois bem, foi quando ela estava grávida e muito feliz porque daria à luz na segunda metade de 2023. E lá estávamos nós dois conversando, quando ela me disse que queria fazer parto normal. Confesso que isso é algo que sempre me afligiu, pois sou muito sensível à dor. Ela, que é bem mais jovem que eu, me deu mais uma lição de vida.

– Mas você não tem medo de sofrer? Tenho medo de você sentir dor.

– Dudu, dor e sofrimento são coisas diferentes.

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