Sozinho como um pequeno príncipe
Uma reflexão sobre solidão, escolhas e beleza de cativar
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Daqueles dias que você se sente sozinho tal qual um pequeno príncipe.
A gente nasce sozinho no mundo. Independentemente da família que te gerou, ou da família que você vai formar, dos amigos que cativou… a gente é sozinho.
Só depende de você a forma que vai lidar com suas escolhas e sentimentos. Muitas vezes você terá apoio e a alegria daqueles que são seus amigos e familiares. Outras vezes, não.
A gente é sozinho, independentemente de gerar ou criar um filho. Não importa o que você faça de melhor para eles, pelo menos um dia na vida eles irão te criticar, proferir palavras cruéis e vão te magoar por isso. E aquele momento vai doer ao ponto de você esquecer todos os outros que foram repletos de amor e felicidade, pelo menos por aquele instante de dor intensa.
Lembro de ler “O pequeno príncipe” duas vezes na minha vida. A primeira na adolescência, onde achei que aquele texto era realmente para as crianças, e por isso seu sentido era pequeno em mim naquela época. A segunda vez foi pouco antes de eu descobrir que seria mãe, e nada fez mais sentido que aquele texto: esse livro não é para crianças, eu pensei. Sim, aquele não era um livro para crianças.
Um principezinho que vive em seu planeta. Que se sente só e resolve se arriscar viajando por outros planetas universo a fora. Visita outras pessoas muito ocupadas, que não têm tempo ou empatia de compreender seus pensamentos. Possui uma rosa que é muito amada e bela, mas que tem espinhos e pode machucá-lo caso ele a queira tocar. E aí, em uma de suas experiências nos planetas que visitou, cativa a amizade de um ser que não pensava encontrar: Uma raposa que lhe diz que ele é eternamente responsável por aquilo que faz, por aquilo que cativa.
Cativar. Algo difícil na vida, não? Porque, mesmo quando alguém lhe cativa, você tem que decidir ou aceitar levar o lado negativo daquela pessoa junto. Não dá pra separar as coisas, todo mundo possui o bem e o mal dentro de si, ambos brigam e convivem, às vezes o bem vencendo, às vezes não. Pois bem, você cativa alguém e se torna eternamente responsável pela forma que lidará com esse sentimento. Se quer ter esse alguém por perto, terá que encontrar uma forma de diminuir o sentimento do ônus.
A gente é sozinho e teremos que aprender, buscar a força interior ou divina para nos mantermos de pé, para seguirmos firmes naquilo que acreditamos. Mas como é difícil e dolorido seguir sem fraquejar, ao menos uma vez. Como é difícil seguir nossos objetivos quando muitas vezes parece que o resto do mundo diz que seu jeito não é o correto. Como é difícil seguir, quando o caminho que você escolhe é o mais longo, mas, ao mesmo tempo, aquele que parece ser o que mais se assemelha ao seu objetivo. Como é difícil seguir, quando a esperança parece desaparecer e a fé parece sucumbir.
Eu, muitas vezes, me sinto aquele príncipe. Viajo pelos planetas dos outros. Procuro sentimentos, companhia, afeto e nem sempre recebo. Estão todos muito ocupados com suas próprias causas. Me busco em outros mundos e talvez tente me encaixar em algum deles. O príncipe só tinha uma única rosa como amiga e ela era cheia de espinhos, melancólica e, algumas vezes, egoísta. Mas era linda e alegrava a vida dele em seu pequeno planeta. E foi o tempo que ele dedicou àquela rosa que a tornou importante para ele.
Viajando, encontrou uma sábia raposa, com pensamentos certeiros e profundos, que lhe jogou na cara que ele não tinha nada de especial, que ele era igual a cem mil outros, que ela não tinha a mínima necessidade dele e que ele não tinha necessidade dela, como ele pensava e buscava. Mas, como uma compensação para que a frustração dele não fosse tão grande, ela lhe mostrou que cativar seria a chave da porta das relações:
“Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…”
Não se engane. Definitivamente, não é um livro para crianças. É uma pedrada na alma. Uma pedrada tão forte que eu tatuei na perna. O objetivo solitário na minha vida é amar e cativar, com toda a glória e toda a lástima que essas ações podem exercer.
É difícil, mas é verdade, a gente é sozinho nessa vida.
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Rachel Lima (@rachel.lima.prof) é escritora e professora universitária, Doutora em História, carioca e suburbana.