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Juntos contra a Covid

UnB estuda variantes do novo coronavírus

Publicado

Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

O assunto em voga no momento são as variantes do novo coronavírus. No mundo todo, já foram identificadas cerca de mil cepas do vírus. Entre elas, três brasileiras vêm chamando a atenção de pesquisadores pela alta capacidade de multiplicação, transmissibilidade elevada e possibilidade de causar quadros mais graves da covid-19. São elas: a P.1, encontrada em Manaus; a P.2, no Rio de Janeiro; e a N9, em São Paulo. Cientistas da Universidade de Brasília têm conduzido estudos para descobrir mais informações sobre essas mutações e avaliar como elas têm impactado a população do Distrito Federal.

“A avaliação da diversidade genômica é importante para conhecer quais variantes virais estão circulando no Distrito Federal e poder correlacionar com a epidemiologia da doença”, pontua Anamélia Lorenzetti, professora do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (CEL/IB) e integrante da equipe na Universidade que tem sequenciado o vírus.

Ainda em março de 2020, um grupo de pesquisadores da instituição realizou o primeiro sequenciamento do genoma do novo coronavírus no Distrito Federal, com uma amostra de paciente infectado cedida pelo Laboratório Sabin de Brasília. Participaram do feito os professores virologistas Bergmann Ribeiro, Tatsuya Nagata, Fernando Lucas de Melo e o biomédico Ikaro Alves de Andrade. A UnB foi a terceira universidade brasileira a realizar o procedimento.

O Laboratório de Microscopia Eletrônica e Virologia do IB é especializado no estudo de vírus e sua equipe tem realizado investigações sobre o novo coronavírus. Diferentes tipos de genomas virais já foram sequenciados na unidade, entre eles o zika, o arbovírus (causador da dengue) e o CHIKV (causador da chikungunya). O trabalho é feito com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), que são derivados de projeto em vigência desde 2017.

Por conta do valor elevado dos insumos necessários para dar continuidade ao sequenciamento do Sars-Cov-2, o processo teve que ser pausado por um período em 2020. “Os recursos são essenciais para a realização desta iniciativa, pois os insumos são importados. Para se ter uma ideia, o custo por amostra sequenciada sai entre 600 e mil reais. Não é barato. Além disso, é necessário ter pessoas especializadas na preparação das amostras e para a realização das análises dos dados gerados no sequenciamento”, pondera Bergmann Ribeiro.

Pesquisadores da UnB foram os primeiros no DF a sequenciar genoma do novo coronavírus. Foto: Arquivo pessoal

Ao serem contemplados em editais de diferentes agências de fomento para estudos sobre a covid-19, o laboratório, coordenado pelo professor Bergmann, e outros grupos de pesquisa da instituição conseguiram recursos para retomar o sequenciamento de mais amostras no início deste ano.

“Após a liberação de recursos e o processo de importação de insumos, começamos a coleta de amostras, com a parceria de pesquisadores do Laboratório Central [de Saúde Pública] da Secretaria de Saúde do DF, e o sequenciamento foi reiniciado no final de janeiro”, detalha o docente, que é referência em estudos sobre o novo coronavírus.

Até o momento, dezenas de genomas foram sequenciados e cinco cepas do vírus de amostras do Distrito Federal foram identificadas, sendo a variante P.1, originalmente de Manaus, predominante entre elas. Pela parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF), também é realizado o sequenciamento de amostras escolhidas com base em critérios estabelecidos pela própria unidade.

Perspectiva
Segundo Bergmann Ribeiro, espera-se ainda sequenciar cerca de 500 genomas, o que, na avaliação dele, daria uma noção sobre a circulação do novo coronavírus no Distrito Federal. “Como vamos tentar sequenciar amostras do ano passado, poderemos descrever como o vírus mudou desde que entrou no DF”, esclarece.

A professora Anamélia Lorenzetti destaca também que, com os dados obtidos por meio da identificação das variantes, os pesquisadores poderão fazer uma relação com a resposta imunológica dos indivíduos infectados e entender melhor a disseminação do vírus. “No momento, os dados obtidos são fundamentais não só para a pesquisa, mas para auxiliar a vigilância sanitária do DF. Dados que são importantes para o entendimento e para o controle da doença”, completa.

Este tem sido foco de um projeto coordenado por ela e pelo professor Renato Resende, também do Departamento de Biologia Celular. Por meio da iniciativa, os pesquisadores têm monitorado a diversidade genética do Sars-Cov-2 no Distrito Federal e identificado padrões de distribuição espaço-temporal do vírus.

Anamélia Lorenzetti pontua que os dados resultantes do sequenciamento e da análise da diversidade genômica são importantes para o controle da covid-19 no DF. Foto: Arquivo pessoal

Avaliar a correlação entre essa diversidade e o estabelecimento de uma memória imunológica dos pacientes é também outra perspectiva do projeto, que foi financiado pela FAP-DF. A estratégia pode contribuir ainda para a produção de vacinas eficientes para as diversas mutações do novo coronavírus.

Apesar do potencial de contágio dessas novas variantes, o professor Bergmann Ribeiro alerta que os cuidados a serem tomados pela população para prevenção à covid-19 continuam os mesmos: distanciamento social, uso de máscaras e higiene constante das mãos.

O virologista coordena outro grupo de pesquisa, que tem analisado a diversidade genômica do Sars-Cov-2 e a produção de insumos biotecnológicos para sua detecção durante a infecção e para a inibição das proteases (enzimas que quebram as ligações que unem os aminoácidos) in vitro. O trabalho da equipe tem financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Bergmann Ribeiro também está envolvido em um projeto nacional, que atua como uma rede para o sequenciamento de genomas do novo coronavírus em diversas regiões do Brasil. A perspectiva é que a iniciativa contribua para o acompanhamento da evolução do vírus nesses locais e a identificação de mutações associadas, o que pode favorecer ainda a busca de possíveis alvos terapêuticos.

Intitulada Corona-ômica BR MCTIC/FINEP: Rede Nacional de genomas, exoma e transcriptoma de covid-19 para identificação de fatores associados à dispersão da epidemia e severidade, a rede recebe recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Doação
Para viabilizar o financiamento de projetos de pesquisa, extensão e inovação da Universidade com foco no combate à covid-19, foi criado, em convênio com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), um fundo para arrecadar doações.

As doações podem ser feitas por boleto, depósito bancário, cartão de crédito ou PayPal, sendo designadas a projetos específicos ou ao fundo geral. O comitê gestor do fundo irá direcionar as contribuições, seguindo critério de classificação nas chamadas prospectivas de iniciativas da UnB de combate à covid-19.

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