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Pátria livre

União contra ratos frustra golpe desenhado em 2019

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

A longevidade e o aprendizado com os mais sábios me ensinaram que a hipocrisia, a resistência, a leniência e o recolhimento do povo brasileiro variam conforme as necessidades, eventuais vantagens e, principalmente, de acordo com as reações geradas por suas ações. Foi o que ocorreu domingo passado na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três poderes, coração da capital. Gestado desde a posse de Jair Messias, em 2019, o golpe estava pronto para ser parido. O cenário era perfeito. Forças de segurança recolhidas, comandos do mal em alerta máximo, governador do DF recolhido à sua insignificância, comandante da PM de pernas para o ar, alguns oficiais das Forças Armadas incitando a massa ignara, as sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário às moscas por conta do recesso e do fim de semana e o mentor e o executor do levante fora do país.

Mãos à obra, certo! Errado, pois, mais uma vez, esqueceram de combinar com os russos. A coragem de Luiz Inácio, o apoio incondicional de setores liderados por pessoas hostis até o resultado eleitoral, a união dos poderes e a grita dos líderes das maiores economias do mundo, incluindo Estados Unidos, Rússia, China, França, Alemanha e Itália, contribuíram para engavetar o motim finalizado pelos terroristas homiziados e estruturados em frentes aos quartéis das grandes cidades. A união em torno da pátria livre frustrou a tomada do poder. Se alguém ainda tem dúvida de que a insurreição acertada de cima para baixo estava mapeada, por favor me explique a demora para que a polícia se insurgisse contra os amotinados, também conhecidos por aloprados, fanáticos, insubordinados, maluquetes e, na acepção da palavra, bandidos.

Não vi, mas nada me tira da cabeça que, de Orlando, nos EUA, Jair Messias e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo que nunca começou, devem ter dito: “Si consagramos!” A minuta do golpismo estava na casa do ex-ministro. Na verdade, se consagraram às avessas. Perderam e certamente já imaginam onde acabarão. Anderson Torres tem certeza. Voltando no tempo, o golpe começou a ser projetado nas pranchetas dos ratos do porão e do sótão do Palácio do Planalto em 1º. de janeiro de 2019, data da posse do tenente raso no cargo, cuja razão, destinação e responsabilidade ele até hoje não descobriu. Sabia – e sabe – que serviria para empoderá-lo e torná-lo líder de um grupelho que usou – e usa – para ajudar a destilar seu ódio e para doutrinar conforme suas conveniências. Conseguiu durante um período, porque, desde que o mundo é mundo, tem bobo para tudo. Estão aí as razões pelas quais o mito durou bem menos do que esperava, voltando rapidamente ao pó.

Não há dúvida de que seu sonho golpista era o sonho de uma minoria dos superiores de farda. No entanto, seu despreparo e desinteligência deram causa para que a maioria fardada e estrelada se mantivesse ao lado da democracia. A ambição pelo poder das autoridades maiores foi por água abaixo graças a uma dessas obras danadas do destino. Qual? Elas (as autoridades superiores) estavam temporariamente sob a tutela de um subalterno grosseirão, desajeitado, rebelde e que, uma vez na ativa, sempre incomodou o Exército e as Forças Armadas. E ele manteve o perfil mesmo sendo comandante em chefe. Em suma, a intenção era claramente o golpe e, para isso, um tenente de língua afiada e sem robustez psíquica era suficiente para tocar fogo na República. Apesar de mais inteligentes do que o pretenso líder, os estrelados só não contavam com a coragem, a astúcia e a oportunidade dos adversários, hoje inimigos ferrenhos.

Tudo ia muito bem. Até o povo do centro e os supostamente de esquerda se recusarem a aceitar adentrar o vespeiro enlouquecido pelo sangue dos brasileiros da paz. Articulada com a força de parte das forças, a tese golpista começou a fazer água quando o mestre sem cérebro Donald Trump também se achou mais poderoso do que realmente era. A invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, foi o início do esfarelamento dos castelos de areia trumpista e bolsonarista. Interferência na Polícia Federal, o desmatamento desenfreado, o besteirol regurgitado contra os líderes de potências até então aliadas e a demissão em série de ministros, entre eles generais de boa cepa e conscientes de sua missão constitucional, foram a senha para que a sedição que ainda não estava nas ruas começasse a minar.

A sucessão de “cagadas” parece ter culminado com a invasão das sedes dos três poderes da República. O que ocorreu domingo passado inicialmente parecia uma recreação dominical de bandidos ciceroneados em Brasília pelo governo local e auxiliados logisticamente pela Polícia Militar. Só parecia. A força da razão e da sabedoria dos que não querem caminhar sozinhos acabaram solidificando o mandato de Lula da Silva, consolidando a democracia e encarcerando todos os que se insurgiram contra a Pátria Amada. Os que ainda não foram, um dia serão. Aos patriotas idiotizados, um conselho dos mestres: “Às vezes o único jeito de seguir em frente é mudando de direção”. Na primeira sexta-feira 13 do ano, pensem na tese poética de que cada um descobre seu anjo após ter um caso com o demônio.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978.

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