Papai Noel
Uso e abuso do Bom Velhinho no Natal
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Papai Noel, o Bom Velhinho mundialmente conhecido, possui raízes complexas, resultantes da fusão entre tradições cristãs, cultos pagãos do inverno e transformações culturais promovidas pela modernidade. A origem mais remota do mito natalino vincula-se ao bispo cristão São Nicolau de Mira (século IV), venerado por sua generosidade e por milagres associados à proteção de crianças e viajantes. A imagem moderna de Papai Noel deriva dessas raízes, posteriormente reinterpretada pelas tradições folclóricas do norte da Europa.
Na Europa, Papai Noel recebeu diversas denominações: Santa Claus (países anglófonos), Father Christmas (Reino Unido), Sinterklaas (Holanda e Bélgica), Weihnachtsmann (Alemanha), Père Noël (França) e Joulupukki (Finlândia). Em regiões eslavas, surgem versões híbridas como Ded Moroz (“Vovô Gelo”). Na América Latina predomina “Papai Noel”, enquanto nos Estados Unidos consolidou-se “Santa Claus”, difundido mundialmente pela literatura e pela cultura de massa.
No contexto africano, as representações de Papai Noel assumem múltiplas formas, refletindo a diversidade linguística, religiosa e cultural do continente. Em países de forte influência cristã, como Nigéria, Gana, Quênia, Angola e África do Sul, o personagem é conhecido como Father Christmas, Christmas Papa, e Papa Noël (nas regiões francófonas). Diferentemente das narrativas europeias centradas no inverno e na neve, as celebrações africanas ocorrem durante o verão, o que adapta o imaginário natalino a um clima quente e festivo.
Em muitos locais, o Papai Noel aparece com vestimentas mais leves, por vezes em tons variados de vermelho e branco, ou incorporando padrões têxteis tradicionais como o batik. Em algumas regiões da África Ocidental, a figura relaciona-se simbolicamente aos anciãos do clã, guardiões da generosidade e da transmissão de sabedoria, reforçando o vínculo entre Natal e valores comunitários como partilha, ancestralidade e solidariedade. Assim, o Papai Noel africano constitui um exemplo da capacidade de ressignificação cultural, integrando elementos cristãos, tradições locais e simbologias próprias das cosmologias africanas contemporâneas.
O simbolismo de Papai Noel transcende a narrativa cristã do Natal. A antropologia identifica paralelos entre o “velho de barba branca” e divindades ou espíritos do inverno, como Odin, que no solstício percorria os céus montado em seu cavalo de oito patas, distribuindo dádivas aos humanos. Sob a perspectiva esotérica, a figura representa o arquétipo do Velho Sábio, o Ermitão, arcano 9 do tarot, associado à sabedoria, benevolência, proteção e renovação do ciclo da luz no inverno. Sua iconografia reforça a simbologia solar: a cor vermelha é interpretada como manifestação do fogo vital que resiste ao frio, e o ato de distribuir presentes alude ao fluxo de energia, abundância e regeneração cósmica celebrados no solstício.
O vínculo com o Natal consolidou-se progressivamente a partir do século XIX, quando escritores como Clement Clarke Moore e ilustradores como Thomas Nast agregaram atributos como o trenó, as renas, sininhos e a residência no Polo Norte. No século XX, a imagem foi amplamente popularizada pela publicidade — sobretudo pela campanha da Coca-Cola iniciada na década de 1930 — que tornou o Papai Noel uma figura central do comércio natalino. Tal associação reforçou o caráter consumista da festa, convertendo símbolos espirituais em elementos mercadológicos.
Culturalmente, o ilusionista Papai Noel circula tanto na alegria como na tristeza, visto que as criancinhas agraciadas no natal são em número infinitamente menor do que a massa infantil que jaz esquecida nos sete continentes. Todavia o bom velhinho articula valores de generosidade, gratidão e esperança; religiosamente, expressa a síntese entre o nascimento do Cristo e antigas celebrações solares do solstício de inverno; simbolicamente, evoca os ciclos de morte e renascimento da luz; e esotericamente, manifesta arquétipos de sabedoria, proteção e renovação energética.
A força do Papai Noel perdura através dos tempos porque integra elementos mitológicos universais à dinâmica sociocultural da modernidade com a força do marketing comercial. Nos shopping centers idosos aposentados assumem o papel do bom velhinho, invariavelmente um tanto magros e portando longas barbas brancas postiças, possam sorridentes para as fotos com as criancinhas no colo, alimentando o consumo dos produtos muito bem expostos nas prateleiras das lojas. Alegria de poucos, certamente, facilitada pelos cartões de créditos e rolagem das dívidas para o Ano Novo.
Amém!
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Giovanni Seabra
Grão-Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
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