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Covid

‘Vacinar crianças por último será arriscado’

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Autor/Imagem:
Evanildo da Silveira - BBC News Brasil/Carolina Paiva, Edição

Mesmo escassas e sendo aplicadas com lentidão no Brasil, as vacinas contra o novo coronavírus trouxeram um certo alívio para a população. Porém, pais e mãe de crianças e adolescentes têm demonstrado preocupação, porque, por enquanto, menores de 18 anos não serão imunizados em nenhum lugar do mundo.

Isso acontece não só porque o público dessa faixa etária seja menos suscetível à covid-19, mas também porque as vacinas em uso hoje não foram testadas em jovens.

“Os estudos realizados com os imunizantes focaram apenas adultos”, explica a epidemiologista Anaclaudia Gastal Fassa, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

“Agora, é preciso desenvolver estudos que avaliem a sua eficácia e segurança em menores de 18 anos.”

A bióloga Évelin Santos Oliveira, pós-doutoranda em Epidemiologia do Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz (IGM-Fiocruz), lembra que, no processo de desenvolvimento de vacinas, são adotados alguns critérios de acordo com o patógeno estudado, no caso, o novo coronavírus, e sua atuação no sistema imune.

“Como a covid-19 se mostrou inicialmente mais grave em adultos, principalmente idosos ou pessoas com comorbidades (como diabetes, obesidade, hipertensão, por exemplo), os testes clínicos das vacinas em desenvolvimento ocorreram em adultos e jovens maiores de 18 anos”, diz.

De acordo com a infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “felizmente” as crianças fazem parte de um grupo populacional no qual a covid-19 tem pouco impacto.

“Raramente elas têm sintomas ou são afetadas pelo novo coronavírus. Então, quando se vai planejar em que população será testada uma vacina contra uma nova doença, são escolhidos aqueles que são mais afetados por ela.”

Foi por isso, segundo Raquel, que crianças e adolescentes não foram testados num primeiro momento, “porque praticamente não adoecem” por causa da covid-19. “A chance de internação e morte deles é muito pequena”, assegura.

“Além disso, eles são péssimos transmissores do novo coronavírus. Isso fez com que todos os fabricantes de vacinas procurassem avaliar a eficácia delas naqueles em que a doença realmente tem impacto, que são adultos jovens e idosos.”

Nesse cenário, o objetivo era desenvolver rapidamente imunizantes em volume suficiente para essas pessoas mais vulneráveis.

“Num processo de vacinação seletiva, dada a exiguidade do produto, deve-se priorizar aqueles mais expostos às condições de riscos, como os trabalhadores da saúde, que lidam diretamente com doentes, e os mais vulneráveis em termos de riscos biológicos e sociais, no caso, determinadas faixas etárias e a existência de comorbidades”, explica o médico e doutor em Saúde Coletiva Alcides Silva de Miranda, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Miranda lembra que o mesmo ocorreu no caso da pandemia de H1N1, a gripe A, em 2009-2010. Por causa das características similares às da covid-19, as crianças e adolescentes também não foram priorizados para a vacinação.

“Isso causou estranhamento e até indignação entre algumas pessoas, mas os resultados posteriores demonstraram que a estratégia adotada estava correta”, diz.

O perigo agora é que novas variantes que apareceram ou possam surgir modifiquem o quadro, ampliando a gravidade da doença em pessoas mais jovens.

Por isso é necessário o monitoramento constante da transmissibilidade e patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro suscetível) delas.

“Se surgirem evidências de que alterem essas características, evidentemente a estratégia de priorização deveria ser alterada”, alerta Miranda. “O que ainda não é o caso.”

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