Borbulhas na banheira
Vale tudo da TV de ontem se repete hoje na formação da personalidade
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Acho sinceramente que a TV aberta dos anos 1990 moldou boa parte da minha personalidade e, talvez até do meu caráter (o que explica muita coisa, convenhamos). Só quem viveu sabe: era um tempo completamente maluco, e a televisão refletia fielmente essa maluquice coletiva.
Era o auge do “vale tudo por audiência”. E quando eu digo “vale tudo”, é tudo mesmo. Tinha gente semi nua dentro de uma banheira de espuma, em horários nobres, com câmeras explorando ângulos que desafiam qualquer noção de pudor.
Também tinham muitos absurdos transmitidos com naturalidade: sushi erótico servido em corpos humanos, entrevistas com bandidos direto do esconderijo (“como o senhor se sente sendo procurado pela polícia?”), repórteres na porta de motéis perguntando a casais sobre a eficácia do Viagra. E tudo isso, veja bem, passava durante o dia, entre um comercial de sabão em pó e outro de margarina.
A TV dos anos 90 foi uma escola de vida. Uma escola caótica, é verdade, mas formadora. Talvez por isso a gente tenha aprendido a rir da própria desgraça e a lidar com o absurdo com naturalidade. No fundo, éramos apenas espectadores inocentes, sentados no sofá, acreditando que aquilo tudo era normal, o que, de certa forma, era mesmo.
Hoje, quando vejo as redes sociais e essa busca insana por likes, penso: “Nada mudou, só trocaram a banheira por um ring light”.