Lado que não dói
Vantagem do torcicolo é sorrirmos para a esquerda
Publicado
em
Ontem eu acordei com torcicolo. Juro. Nunca tinha sentido isso na vida. Um negócio estranho, parece que dormi brigada com o travesseiro, e ele se vingou. O pescoço travou de um jeito que parecia castigo. Mas o mais curioso é que o torcicolo escolheu um lado: o direito. Fiquei o dia inteiro sem conseguir virar a cabeça pra esse lado. Zero mobilidade. Nada de olhar pra direita.
Passei a viver só com o lado esquerdo da cabeça. Literalmente. E, sinceramente, até que foi uma experiência interessante.
Afinal, depois dos 40, a gente começa a colecionar umas dores aleatórias, umas falhas de sistema, tipo carro velho que acende uma luz no painel, e a gente ignora porque não faz ideia do que significa. E o corpo vai dando sinais de que não é mais jovem, mas também não sabe direito como ser velho. Resultado: torcicolo.
Mas o mais poético disso tudo foi passar o dia todo sem ver o lado direito. Comecei a refletir se não era um sinal do universo. Tipo assim: “Minha filha, esquece esse lado por um tempo. Foca na esquerda.”
Confesso que foi até mais leve. Não vi notícia ruim, não li declaração bizarra, não precisei acompanhar ninguém elogiando político reacionário como se fosse visionário. Foi um descanso pro pescoço e pra alma.
No fim das contas, talvez a única cura pro torcicolo seja essa: um colar cervical e um pouco mais de progressismo. Porque se tem uma coisa que aprendi é que, às vezes, tudo o que a gente precisa é virar a cabeça pro lado certo. Ou pelo menos pro lado que não dói.