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Mesmice cansativa

Velha política da retórica artificial está com dias contados

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Mathuzalém Júnior* - Foto Rovena Rosa

Mais por exclusão do que por convicção, meu voto para presidente da República está decidido desde a fraude eleitoral de 2018. Como na época não havia o que fazer, o consolo foi aguardar 2022. Ao lado de uma imensa maioria de eleitores descontentes com o atual (des)governo, cujo líder vai, em alguns segundos, de sofrível a medíocre como administrador e político, avalio o cenário nacional como arcaico, rancoroso e desencantador. Como sou daqueles brasileiros que não desistem nunca, optei por me embrenhar pelo universo do folclore e resolvi votar no encantador de serpentes. Fácil saber a quem me refiro, porque o outro principal presidenciável está mais para açoitador de jacarés, como foram denominados todos aqueles que, no auge da pandemia, optaram pela vacina contra a Covid-19.

Reitero que minha escolha é exclusivamente por eliminação, embora não esconda que, ideologicamente, esteja mais próximo do candidato que representa a vanguarda. Se ainda não estivesse convicto disso, certamente mudaria meu voto após assistir ao debate desse domingo (28), na TV Bandeirantes. Pelo que vi, apostaria todas as minhas fichas na senadora Simone Tebet (MDB). Faria isso porque me pareceu que ela ainda não foi mordida pela mosca que transmite uma terrível doença chamada agorafobia. Consciente de que a polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio está consolidada, Simone obviamente preferiu investir para o futuro. Estejam certos de que esse investimento terá muitos dividendos em 2026.

O mesmo deve ocorrer com Felipe D’Ávila (Novo) e com a também senadora Soraya Thronocke (União Brasil). Vale registrar que, conforme pesquisa qualitativa e em tempo real de boca de debate, os três tiveram as melhores avaliações dos eleitores consultados. Curiosamente, os piores foram justamente os dois com maiores chances de vencer o pleito de outubro. Coisas do Brasil, país em que já virou piada o que pode sair da caneta de um magistrado, da cabeça do eleitor e do bum bum de um bebê. Claro que a pesquisa não representou a população brasileira, mas deu claramente um tom positivo para o logo ali. A verdade é que o povo, apelidado de eleitor a cada dois ou quatro anos, mostra visível cansaço com a mesmice eleitoral, especialmente com a recorrente polarização.

Apesar de líderes absolutos para este pleito, o recado dado é que, seja qual for o resultado, Bolsonaro, Lula e a velha política de retórica artificial estão com os dias políticos contados. Não há dúvida de que os 156 milhões de eleitores votarão em outubro já de olho em 2026. E lá, independentemente dos desvarios dos atuais extremos, a renovação será imprescindível e definitiva. Não há mais tempo a perder com a monotonia e a invariabilidade das candidaturas. Precisamos de nomes, direções, culturas e posicionamento novos. O Brasil e os brasileiros não aguentam mais tanta rabugice, rancor e grosserias. Daqui a 100 anos, certamente a ranhetice e a brutice dos dois principais presidenciáveis será a mesma. Mesmo ultrapassados, permanecerão inseguros, brigões, irrecuperáveis politicamente e, sobretudo, chatos.

Acho que poucos duvidam desses adjetivos. Para os que pensam de forma contrária, sugiro assistir ou rever a batalha da Band. Enquanto o povo aguardava pelas propostas, Jair Messias e Lula da Silva batiam boca. Fizeram inveja a qualquer fofoqueira da teledramaturgia e dos humorísticos nacionais. Durante o debate, a preocupação de ambos era com a reciprocidade e o peso dos xingamentos. Um deles, o mais raivoso, se esmerou nos ataques às mulheres. Nada de novo. Claro que a leitura analítica da contenda depende da nuance ideológica do analista. Para quem defende o Brasil, a democracia acima de tudo e sugestões sobre desemprego e fome, restou a frustração, a desilusão, a decepção e a incerteza em relação aos próximos quatro anos.

Apesar de não ter poder algum para controlar a guerra contra as liberdades, o candidato de minha escolha em um eventual segundo turno tende a ser menos pior. Pelo menos, jamais atentou e não atentará contra o Estado Democrático de Direito. Não posso dizer o mesmo do concorrente. Fácil para os fanáticos, é muito difícil imaginar alguém sensato acreditando em um candidato que mente descaradamente em rede nacional. Pior é quando o mentiroso tem, por obrigação da história, atividades públicas e, portanto, gravadas, veiculadas, debatidas e arquivadas para quaisquer eventualidade. Resumindo, realmente o pior cego é aquele que não quer ver. Para nossa sorte, a linguagem metafórica revela que quatro anos passam rápidos. Que venha 2026. E com muitas novidades.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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