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Maria Corina Machado

Venezuelana que desafiou ditadura leva Nobel da Paz

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Autor/Imagem:
Antônio Albuquerque - Foto Divulgação

O Comitê Norueguês do Nobel anunciou nesta sexta-feira (10) a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025: a venezuelana Maria Corina Machado, símbolo da resistência democrática em um país que há mais de duas décadas vive sob um regime autoritário. O prêmio reconhece, segundo o comitê, “sua luta pacífica, corajosa e incansável pela liberdade, pelos direitos civis e pela restauração da democracia na Venezuela”.

Nascida em 1967, em Caracas, Maria Corina Machado formou-se em engenharia industrial e construiu uma sólida carreira no setor privado antes de mergulhar na vida pública. Sua trajetória política, contudo, começou no campo social: em 1992, criou a Fundação Atenea, voltada ao apoio de crianças em situação de rua.

Dez anos depois, em 2002, fundou a organização Súmate, dedicada à promoção de eleições livres e transparentes — um gesto ousado em um país onde a manipulação eleitoral já se tornava regra. A partir daí, seu nome passou a ser associado à defesa da democracia e à denúncia de abusos cometidos pelo regime chavista.

Em 2010, foi eleita deputada com votação expressiva. Quatro anos depois, acabou cassada e expulsa do Parlamento, acusada de “traição à pátria” por denunciar violações de direitos humanos em fóruns internacionais.

A luta que atravessou décadas
De lá para cá, Maria Corina Machado jamais se calou. Fundou o partido Vente Venezuela, reorganizou movimentos civis e liderou, em 2023, as primárias da oposição com ampla vantagem. Impedida de concorrer às eleições presidenciais de 2024, continuou ativa, apoiando o candidato Edmundo González Urrutia e articulando a unidade das forças opositoras.

Mesmo sob perseguição, ameaças e restrições impostas pelo regime de Nicolás Maduro, não deixou o país. Permaneceu em solo venezuelano, liderando de forma simbólica e estratégica um movimento de resistência cívica que desafiou o controle do Estado e manteve viva a esperança de transição democrática.

O reconhecimento internacional
O Comitê Norueguês do Nobel, ao justificar o prêmio, destacou “a força moral de Maria Corina Machado diante da repressão e seu compromisso com uma mudança pacífica”. O prêmio também é interpretado como um gesto de solidariedade aos milhões de venezuelanos que sofrem com a crise econômica, a censura e a repressão política.

Em nota, o Comitê afirmou que “a democracia é uma condição essencial para a paz” — frase que ressoa como crítica direta ao regime de Caracas. O reconhecimento a Machado simboliza, portanto, uma vitória moral para a oposição e uma mensagem clara da comunidade internacional: não há estabilidade possível onde a liberdade é sufocada.

Entre o símbolo e o desafio
O Nobel da Paz chega num momento delicado. Se por um lado consagra a trajetória da líder opositora, por outro aumenta as tensões políticas dentro da Venezuela. O governo de Nicolás Maduro reagiu com silêncio — e analistas temem que a repressão aumente.

Ainda assim, o prêmio amplia a visibilidade da causa democrática venezuelana e pressiona governos estrangeiros a redobrarem esforços diplomáticos em favor de eleições realmente livres e de uma transição política legítima.

Ao receber o Nobel, Maria Corina Machado inscreve seu nome ao lado de figuras como Malala Yousafzai, Nelson Mandela e Aung San Suu Kyi — líderes que enfrentaram regimes autoritários com coragem e convicção.

Sua mensagem, porém, é profundamente latino-americana: nasce da convicção de que a democracia não é um luxo do Norte, mas um direito universal, especialmente em nações que lutam contra a desigualdade, o autoritarismo e a miséria.

Mais do que uma premiação pessoal, o Nobel da Paz de 2025 é um alerta global sobre a urgência de se restaurar a liberdade política na Venezuela — e um tributo a uma mulher que transformou resistência em esperança.

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