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Brasil à deriva

Venha quem vier, 2022 será nosso ano da salvação

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo*

Países governados de modo sério e eficaz estão conseguindo fazer do limão conhecido mundialmente por Covid-19 uma limonada denominada contenção do vírus. Entre esses, destacam-se os Estados Unidos pós-Donald Trump, China, Rússia, Canadá, Itália, Alemanha, Reino Unido, França e o minúsculo Portugal. Além de apostar desde o início na imunização como solução lógica para a epidemia, em algum momento todos aplicaram o pavoroso antídoto conhecido como lockdown como tentativa mais imediata de controlar a disseminação da doença. E, apesar das críticas de uma minoria, nenhum deles teve como primeira preocupação politizar o mal, tampouco priorizar a economia de seus países. A prioridade zero, um e dois era a vida da maioria.

Deixando de lado o negacionismo e a hipocrisia, tiveram coragem e fizeram o que tinha de ser feito, inclusive encomendar quantitativo suficiente de vacinas para imunizar seus comandados tão logo o antivírus começou a sair dos laboratórios. Agindo com a rapidez exigida, evitaram milhares de novos óbitos e, apoiados pelo povo aculturado que entendeu o radicalismo das decisões, vêm buscando em conjunto saídas menos dolorosas para salvar as finanças com a mesma pressa que contiveram a epidemia. Apagado do mundo, longe de alternativas viáveis e cada vez mais distantes da vacina para todos, o Brasil vive uma fantasia tão linda como macabra.

Infelizmente, numerosos bolsonaristas – no governo ou fora dele – insistem em receitar – não sei se tomam – cloroquina como química capaz de curar a Covid. Deliberadamente, esquecem que a ciência já comprovou que esse medicamento chamado de precoce tem efeito idêntico ao do detergente usado como combustível de avião. Reitero que não é prazeroso insistir nas críticas ao atual governo. Nada, no entanto, é inventado. As mazelas são diárias e do tamanho de dois elefantes sobrepostos. Ou seja, não dá para esconder. Concluído no início deste mês, relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) analisa a atuação do Ministério da Saúde no combate à Covid. Depois do quarto ministro, os adjetivos – abuso de poder, alteração de documentos, ineficácia e omissão com kit intubação – são elucidativos.

Por culpa de alguns carentes de mitos e inércia de muitos que apostam no quanto pior, melhor, temos um governo de brincadeira, um piloto que não assume a postura de comandante, um líder onipotente, mas pouco presente, um mandatário que não admite ser chamado às falas e, o que é pior, um povo (pelo menos parte dele) de comportamento mesquinho, intolerante, incompreensivo e que acredita que o país de nossos dias é um eldorado político, associado a um imenso poço de saúde, paz, pujança, bonança e fertilidade. Ah! Quanta saudade! Mesmo com todos os problemas de conduta, como era bom o Brasil de ontem, de anteontem, sobretudo o do fim da década passada. É verdade que tínhamos ladrões, bufões, religiosos perdidos comandando casas do povo e até vendilhões nos representando no Congresso Nacional.

Entretanto, não havia ameaças de golpes, tentativas de invasão de instituições públicas, exacerbação de divisões políticas, muito menos rusgas com grupos de fanáticos armados e protegidos pela União. Embora em algumas ocasiões a rivalidade fugisse dos limites, flamenguistas respeitavam vascaínos e palmeirenses engoliam são-paulinos. O mais relevante era a alegria do povão nos fins de semana, feriados prolongados ou nas férias. Com variações transformadas em reflexões de sociólogos e antropólogos, expressiva parcela do povo menos aquinhoado passou a ter acesso à carne, ao frango e às viagens internacionais, duramente criticadas por ministros banqueiros e milionários. Como no governo Bolsonaro pode acontecer de tudo, inclusive e sobretudo nada, rogamos aos céus para que 2022 chegue logo.

Seja lá quem for, que tenhamos um governante comprometido com a nação e com a pluralidade da população. Que consigamos eleger um mandatário sem temores e sem louvores à própria personalidade. Principalmente que recuperemos a parcela da sociedade que preferiu o fanatismo e a demonização de eventuais adversários à solidariedade e ao abraço aos desiguais. Há necessidade urgente de que esqueçamos de uma vez o país que dificultou o acesso aos livros e facilitou a aquisição de armas. Politicamente, há tempos deixamos de ser apenas plebe ignara. Chegou a hora de repudiarmos o título ainda arraigado de massa de manobra. Poucos brasileiros estão no mesmo barco, mas todos indistintamente vivem a mesma tempestade. Se não nos unirmos, certamente o barco chamado Brasil afundará de vez. Pensemos nisso em 2022. Sem extremismos, melhor que estejamos no centro da disputa.

*Wenceslau Araújo é jornalista

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