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Juventude má

Viagem no tempo aponta os erros da educação

Publicado

Autor/Imagem:
Adaílton Braga

Hoje é comum a fala em todos os espaços e veículos de comunicação sobre o desvario dos jovens, que aderindo às práticas deseducadas e desviantes, e motivados por ideologias políticas disseminadas na Escola como instituição, não tem mais respeito por si mesmos, pelas instituições, nem por nada. Sendo urgente, impor à eles métodos de disciplina rígidos, visando baliza-los na boa conduta, o que em certos casos e ambientes acho também necessário. Relatando um pouco do que ouço e leio no cotidiano

– “Nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus”.

– “Não tenho mais nenhuma esperança no futuro de nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível”.

– “Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe”.

– “Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter nossa cultura”.

Curioso, visitei outros tempos para averiguar como eram os jovens de outras épocas e culturas. Estive com o meu amigo Sócrates em Atenas, 470-399 antes de Jesus Cristo; depois visitei Hesíodo, 720 antes de Jesus Cristo; dei também uma passadinha na casa de um sacerdote egípcio que viveu no ano 2.000 antes de Jesus Cristo; e também tive acesso a informações, provenientes de uma descoberta recente sobre um vaso de argila, nas ruínas da Babilônia, que tem mais de 4.000 anos de existência”, relatando dissabores com os jovens babilônicos. Os relatos acima sobre os jovens, pasmem, ouvi deles: Sócrates, Hesíodo, o Sacerdote Egípcio, e escritas no vaso de argila babilônico.

Nessas andanças pelo tempo, percebi que a chamada rebelião da juventude não é um problema especificamente brasileiro, e desse nosso tempo específico, mas universal. E em segundo lugar, o fenômeno é tão velho quanto a sociedade humana”.

Agora, é necessário acrescentar que o fenômeno é periódico e aparece de modo mais agudo nas épocas de crises e mudanças sociais radicais. E, por fim, é passageira para cada geração, no sentido de que a geração descontente e revoltosa, acaba adaptando-se ou acomodando-se às exigências da sociedade”.

É sempre importante ressaltar, que a dinâmica as vezes conflituosa dos jovens tem sim seu lugar, pois a sociedade se renova muito através da ação determinada deles. E são estes os provocadores de mudanças e reformas sociais, muitas até radicais, isso contra o conservantismo, contra os misoneísmos variados, provenientes e acumulados de outros tempos. Não é de bom alvitre leva-los, via configurações outras, a adaptar-se, acomodar-se. Se as mudanças sociais radicais promovem-nas eles, e, não as gerações passadas, que já vivenciaram seus momentos de anseio radical por mudanças, necessárias no seu tempo, sempre é bom um olhar mais vertical sobre os jovens, isso com um olhar sempre formativo, educativo no sentido amplo. Cada tempo busca rupturas com o passado, e, rompendo gradualmente com o passado, surge o novo tempo, assim exige a vida e seu processo no tempo.

O que haveria de produzir de bom aquelas juventudes de diferentes épocas e de diferentes lugares, que acima citei. É simples compreender aquelas mocidades, com seus conflitos e contradições (qual a nossa hoje) marcaram o fim de suas civilizações. Aqueles jovens do passado longínquo que citei também eram e puderam ser horríveis, adoradores do luxo, mal educados, tirânicos, insuportáveis, desenfreados, estragados até o fundo de seus corações, malfeitores, preguiçosos etc., porque também viviam à custa de outros, mas nos seus processos de contradição interna, visualizavam contribuir com a construção do seu mundo.

Muito se culpa no presente a tecnologia, como se fosse ela a raiz de todos os males, pois dispersa a atenção dos jovens do que é preciso ser feito, daí ser necessário disciplina-los no real sentido dessa palavra. Mas, contribuo com a opinião, que a raiz de todos os males consiste na falta de sabedoria de quem em cada espaço exerce o poder, muitas vezes com pouca autoridade; na perda da capacidade de idear, vigente no nosso país. Segundo Ortega, não é bom os dirigentes da sociedade agirem como sábios-ignorantes: sábios, porque bons conhecedores de sua “porciúncula universo”; mas ignorantes, porque se comportam frente o caso da rebelião dos jovens, “não como ignorantes, mas com toda a petulância de quem nessa questão tão especial, se acha um sábio. Cabendo o dito do pintor grego Apeles: “não suba o sapateiro acima das sandálias!”.

Não é bom escolher os jovens, de todos os níveis e faixas etárias, como bodes expiatórios, mas traçar um bom caminho juntos, onde, de espírito aberto e livre se busque uma relação de fraternidade produtiva e conscientizada.

Na verdade, os jovens indisciplinados, abandonados, e desvairados, são reflexos também de todos nós, vítimas de um sistema que até o momento não deu certo, sendo a Escola apenas um dos seus reflexos.

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