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Mito passageiro

Vida política de Bolsonaro, que começou com raiva, vai acabar em meio à vergonha

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

O show da vida? Cada dia é um show, cada dia um espetáculo. Ele é implacável, inflexível e sem reapresentação. A sessão costuma ser única e sem meio termo. Só não descobre que não há replay quem está mortalmente ferido pelo discurso de ódio e pelo desejo insano de vencer à força. No Reality Show da Vida dificilmente temos uma segunda chance de errar. Aqui se faz, aqui se paga. Ex-presidente da República democraticamente eleito, Jair Bolsonaro achou que, como mandatário, podia tudo, inclusive impedir a posse de um sucessor também democraticamente eleito. Estava errado.

Tão errado que, pouco mais de dois anos após a tentativa de melar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o mito passageiro e do passado está à beira de um ataque de nervos. Na verdade, ele está à beira da prisão. Ou seja, perdeu a eleição, o respeito e, em breve, perderá a liberdade. Diz um ditado popular que tudo que começa com raiva acaba em vergonha. Mais incisivo foi William Shakespeare ao afirmar que a raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram. Prefiro minha própria inspiração ao imaginar a raiva como um vento que apaga a lâmpada da mente.

O histórico raivoso do político (?) Jair Bolsonaro é a prova de que a lâmpada deles nunca esteve acesa. Por conta do ódio que destilava contra todos que tivessem opinião diferente, não é difícil avaliar a mente do quase presidiário como uma lamparina sem querosene. Fosse eu um pensador, diria que um líder jamais deve motivar um exército para uma guerra incitado pela ira ou pelo desconforto da derrota. Como sou um simples mortal, digo que para eliminar a raiva, além da antirrábica no rabicó, nada melhor do que umas férias na masmorra para pensar que só sofre quem fez ou faz sofrer.

Deliberadamente esquecendo sua gestão de medo, mortes em série, golpismo e achincalhe de autoridades sérias, mas incômodas a seus interesses escusos, Bolsonaro, seus familiares e aliados doutrinados, incluindo o laranjão dos EUA, falam diariamente em perseguição. Que perseguição? Perseguição ele faria caso o espetáculo do golpe que planejou tivesse dado certo. Zero vezes zero ao quadrado como deputado federal, Bolsonaro fracassou como presidente, como golpista e como articulador da sobretaxa às exportações de produtos brasileiros, na medida em que, se dizendo patriota, novamente agiu como vilão do povo.

Como quem apanha nunca esquece, provavelmente a sociedade se lembrará sempre de quem será a culpa do crescimento dos juros, da volta da inflação e, consequentemente, do recuo da economia a patamares de décadas passadas. Tudo culpa da esquizofrenia de Bolsonaro que, a pretexto de interromper uma inevitável condenação, estimulou o presidente dos Estados Unidos a atacar impiedosamente o governo e a população do Brasil. Perdeu novamente, pois o máximo que conseguiu foi unir forças divergentes contra sua bestial proposta. O castigo veio à jato.

Em decorrência da insanidade de Bolsonaro e de Trump, Lula encurtou a distância entre os índices de reprovação e de aprovação e, de forma definitiva, se cacifou para alcançar com relativa facilidade sua quarta encarnação. A respeito do raivoso ex-presidente, vale registrar que aquele que não sabe perder acaba se perdendo no show da vida. Quanto a nós, brasileiros à espera de dias melhores, não há tempo a perder. Temos de ir adiante e tentar recuperar a virtude de saber escolher entre o ontem e o que vem pela frente. E o que dizer sobre o perturbador e bárbaro Donald Trump? Nada, além de lembrá-lo que, caso esteja com dó do Bolsonaro, a solução é simples: Leve-o para futuras cenas de vitimização na Casa Branca, porque no Brasil o show da paz deve continuar.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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