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Chico, o vigilante

Vigilante (o eleitor) denuncia escravidão no Moto Week

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Bartô Granja

Um público estimado em até 600 mil pessoas – gente de Brasília, da região do Entorno do Distrito Federal e até do exterior -, está dando as caras pela Granja do Torto, que recebe até o domingo, 30, mais uma edição do Capital Moto Week. São curiosos de olho no glamour de máquinas incrementadas, shows de música e desfile de grupos uniformizados com jaquetas de couro. Há segurança privada. Mas para eles, os vigilantes, ninguém olha. Esses profissionais vivem ali numa espécie de regime de semi-escravidão. A água é da torneira. E a comida, fria,  pode ser comparada àqueles restos dados dos porcos.

Esse quadro triste, embora realista, foi levado ao conhecimento do deputado Chico Vigilante (PT), que promete acabar com abusos contra a categoria que ele representa. “O tratamento dos profissionais é desumano”, afirma o distrital, ao comentar relato feito por um dos vigilantes. Recolhido das atividades parlamentares para tratamento médico (está com um tumor maligno na tireoide), Chico nem por isso fecha os olhos para o que se passa em Brasília. E acionou a Polícia Federal, o Ministério Público do Trabalho e a Delegacia Regional do Trabalho, exigindo um basta.

A festa movimenta milhões de reais. Um ingresso custa os olhos da cara, apesar de o evento contar com dinheiro público (empresas do Estado bancam grande parte das despesas, mediante cotas de patrocínio). Mas, em que pese toda essa dinheirama, a Lei Áurea não vigora por lá. É o que se traduz de desabafo de um dos vigilantes, que pode ser lido a seguir:

– Essa semana – diz texto encaminhado a Chico Vigilante por um profissional que prefere manter o anonimato -, trabalhei no Capital Moto Week, na Granja do Torto, como segurança, e pude constatar a falta de consideração e respeito que se sucedem nesse tipo de evento. Nós, vigilantes, somos discriminados, esquecidos nos postos e, em muitos aspectos, tratados como animais dependentes da vontade dos outros.

Apesar de sermos obrigados a chegar muito cedo, ficamos até 12 horas nos postos, em pé, sem água e sem lanche. Toda alimentação que nos foi dada resumiu-se a uma marmita de almoço, de péssima qualidade, ruim e fria, coberta com um arroz com gosto de queimado.

Além disso, fomos obrigados a ficar debaixo do sol, fiscalizados por “coordenadores” que a toda hora vinham verificar se estávamos nos postos, mas incapazes de trazer um copo de água para matar nossa sede. Por isso, tivemos que catar garrafinhas usadas no chão e enchê-las com água das torneiras dos banheiros, seguindo a recomendação dos próprios coordenadores. Não havia outra opção: a garrafa de água mineral, no evento, custa 5 reais, e os lanches também são muito caros para quem, como nós, recebemos 100 reais pelo dia de trabalho – um pagamento que só irá sair 10 dias após o evento. Ou seja, tivemos que nos virar por conta própria.

Como não fomos escalados para todos os dias, essa falta de pagamento imediato fez da vida de muitos um inferno, porque nem todos tinham dinheiro para pagar a condução. Muitos vieram para o Capital Moto Week, mas tiveram que pegar dinheiro emprestado para voltar para casa. As duas empresas de segurança envolvidas no evento, Dragon e Griffo, atuaram da mesma maneira desrespeitosa, são farinha do mesmo saco. Sem falar no grupo de brigadistas despreparados. Para se ter uma ideia, vários brinquedos infláveis desmoronaram com o vento forte e algumas crianças se machucaram. Uma delas teve dois cortes na cabeça, o que obrigou a direção do evento a interditar o local e desmontar os brinquedos. Como estávamos trabalhando sem rádio transmissor, os pais vieram nos cobrar, achando que éramos, também, brigadistas. Um horror e uma esculhambação.

Esse é meu desabafo, porque está cada vez mais difícil a vida de vigilantes que fazem serviço de segurança, uma exploração total!

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