Significado preciso
Visionários cegos buscam um candidato à sucessão para chamarem de seu
Publicado
em
Leitor contumaz dos grandes pensadores, aprendi com o polímata e autor alemão Johann Goethe que o mais feliz dos homens é aquele que valoriza os méritos dos outros. Com personalidade duvidosa, do prazer alheio eles tiram a alegria que acabam chamando de sua. Qualquer semelhança com o povo que decidiu idolatrar um mito não é mera coincidência. No Aurélio, a definição disso é, na ausência de nome próprio, se deleitar, comemorar, vibrar com a conquista de outrem, em lugar de buscar a própria conquista.
É assim que caminha a direita brasileira em busca de um presidenciável para chamar de seu. No subúrbio do meu querido, dilacerado e cada vez mais lindo Rio de Janeiro, chamam esse “fenômeno” de gozar com o pitoco (foi o sinônimo que arrumei) de segundos ou de terceiros. Trata-se de expressão chula, mas o que fazer diante do despudor do Congresso Nacional, particularmente dos deputados e senadores do PL de Valdemar costa Neto e da família Bolsonaro. Interessante é como a palavra, mesmo obscena e vulgar, consegue ser tão precisa em seu significado.
O mar dos bolsonaristas não está para peixe. Sem margem de erro, diria que, hoje, além de revolto, ele está mais para tubarões tigre, aqueles que pegam, matam e comem. Curioso é que, mesmo sofrendo antecipadamente as dores de um novo e iminente fracasso político, eles não desistem. Se iludem com qualquer nova visão do deputado e pastor Sóstenes Cavalcante (RJ). Não é de estranhar, pois, como disse o escritor e filósofo italiano, se há algo que excita mais os seres humanos que o prazer é a dor.
Vou além e cito o também escritor e historiador francês Voltaire, para quem a ilusão é o primeiro de todos os prazeres. Desconheço a autoria da frase, mas concordo com a afirmação que deve haver na loucura um prazer que só os loucos conhecem. Por falar em loucura, como deixar de lembrar Friedrich Nietzsche. Conforme o filósofo e filólogo alemão, nos indivíduos, a loucura é algo raro, mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra. Mais uma coincidência com aquele aglomerado de pessoas que se acham superiores e acima do bem e do mal?
Claro que não! São os próprios. São aqueles que se mordem de ciúmes ouvindo os elogios de Trump a Luiz Inácio. No atual momento da política brasileira, meu maior prazer tem sido o de me fazer de besta diante dos obtusos que querem bancar o inteligente. Tudo isso imaginando que, em futuro próximo, se confirme a teoria do romancista e ex-senador francês Victor Hugo, cuja máxima é a de que o tempo não só cura, mas também reconcilia. Como a política e a diplomacia são feitas de gestos, é o que espero para 2026, no dia seguinte após a abertura das urnas presidenciais.
Associando as teses dos pensadores com o pensamento dos que se imaginam mais patriotas do que os patriotas, descobri a razão pela qual, assim como a faca e a espada cortam dos dois lados, o pinto e o galo têm cabeça, mas não pensam. De posse dessas afirmações, ficou mais fácil deduzir porque o cérebro é o mais poderoso órgão sexual do ser humano. Não necessariamente de todos os homens e mulheres. Alguns têm cabeça, mas não têm o tronco. Por isso, usam de modo inverso o mapa do prazer e costumam se excitar apenas com os membros de comunidades alheias.
………………………
Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978