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Mulher

Viver em sociedade

Publicado

Autor/Imagem:
Mércia Souza - Foto Francisco Filipino

Muito se discute sobre a posição da mulher.

Sempre pronta a servir, a acolher, a solucionar.

E, sim, é verdade que todo trabalho não remunerado é destinado à mulher, mas naquele dia vi mais que isso.

Estou acostumada a ver as mulheres procurarem um paninho para limpar algo que ela derramou sem querer, procurar uma vassoura, ajeitar os pratos, colocar as embalagens no lixo… Tão acostumada que é simplesmente algo normalizado como uma característica feminina.

Maria arrumava seus livros na estante, decorava o espaço com cenouras, notebook e capim seco. Um pouco de pó e sobra do capim caiu no carpete.

Vejo Maria abaixada tentando limpar algo.

Doce, com seu jeito meigo, ela tentava limpar a sujeira com as pontas dos dedos.

Sorri para ela e disse:

__ Não precisa, daqui a pouco varremos.

Meiga, ela insiste:

__ Tem certeza? Traz a vassoura.

__ Temos, sim. Responde em coro eu e minha amiga.

Corro os olhos em volta dos estandes e observo que, todos os dias de manhã, as mulheres de todos os estandes pegavam vassouras, variam os estandes e seguiam o dia. Passei a observar, nos dias seguintes, que nenhum homem fazia o mesmo, embora o espaço estivesse cheio deles.

Percebo então que sim, a mulher foi dada a posição de servir, do trabalho não remunerado, mas a realidade é que somos muito mais que isso, nós aprendemos a viver em sociedade, a amenizar o peso, diminuir a carga do outro. Não o fazemos apenas porque alguém nos impôs uma posição inferior, mas também por compreender que vivemos em comunidade, e que, se cada um faz sua parte, a vida se torna leve, mais organizadas e bem distribuídas.

Percebo aqui que debatemos muito sobre em como a mulher deve renunciar ao excesso de trabalho, da sobrecarga e, sim, devemos falar sobre refletir, mas, por outro lado. não vemos esse debate ser direcionado aos homens, cobrando deles esse aprendizado, essa consciência.

Ao homem é dada a ideia de que ele paga ou uma mulher faz de graça, de tal forma que não incentivamos a compreensão masculina de cuidar do espaço que ele habita, relaciona, convive.

Se ele entra em um restaurante, há a ideia de que alguém, o garçom, está ali para servi-lo, ao fim do atendimento, esse homem se levanta, deixa tudo espalhado na mesa e se retira. Ele pagou a conta, pagou para ser servido.

A mulher, na maioria das vezes, junta os guardanapos e embalagens, ajeita no prato, empilha um sobre o outro com todos os garfos dentro e agradece ao garçom por retirar.

Inferioridade? Educada para servir?

Compreensão do que é viver em sociedade.

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Mércia Souza, mãe, avó, artesã crocheteira e escritora, descobriu sua paixão pela arte ainda na infância, possui três livros publicados, dois romances e um de crônicas e participação em várias antologias. Fundadora do projeto “Mulheres com voz” sonha com um mundo de igualdade.
Atualmente reside em Cachoeiro de Itapemirim-ES.

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