Curta nossa página


Autódromo Inernacional de Brasília

Viver na Asa Norte virou uma tortura

Publicado

Autor/Imagem:
@donairene13 - Foto de Arquivo

Morar, trabalhar ou estudar na Asa Norte virou um sofrimento e não estou exagerando. Pelo menos para quem vive nas proximidades do Autódromo Internacional Nelson Piquet, a rotina deixou de ter qualquer traço de tranquilidade. Depois de onze anos fechado, o autódromo foi reinaugurado no dia 27 de novembro de 2025 e, desde então, nós, moradores, passamos a conviver com um ruído constante, praticamente todos os dias da semana. Não existe descanso, nem de manhã, nem à tarde, às vezes nem à noite.

No começo, achei que seria algo pontual: uma fase de testes, um evento inaugural, algum ajuste técnico. Mas não. O barulho se instalou de forma permanente na nossa paisagem sonora, como se fosse um direito natural fazer o motor roncar, e um dever nosso suportar. O que era para ser um espaço de esporte e lazer se tornou uma fonte diária de estresse, irritação e desgaste.

E o impacto não é apenas incômodo. É adoecimento. Tenho sentido na pele, e vejo nos vizinhos, um conjunto de sintomas que vai de irritabilidade constante a dores de cabeça, dificuldade de concentração, ansiedade e noites mal dormidas. Viver com barulho intenso e repetitivo é viver com o corpo permanentemente em alerta, como se estivéssemos sob ameaça. Não é exagero dizer que isso adoece física e mentalmente.

Para algumas pessoas, essa realidade é ainda mais cruel. Idosos, que já têm maior sensibilidade auditiva e precisam de ambientes tranquilos para manter o equilíbrio da saúde, estão sofrendo muito mais. Pessoas com hipersensibilidade sensorial, como autistas, indivíduos com TDAH e outras síndromes, têm experimentado crises, sobrecarga sensorial, perda de funcionalidade no dia a dia. O que para alguns pode parecer apenas “barulho”, para outros é um gatilho direto de sofrimento, desorganização e dor.

O mais revoltante é perceber que essa situação se normalizou sem que houvesse um debate sério sobre seus impactos ou um plano de mitigação minimamente eficaz. A Asa Norte, que sempre foi conhecida por seu ritmo mais calmo, hoje convive com um ruído que não escolhe hora nem circunstância.

Eu me pergunto todos os dias: precisamos mesmo sacrificar a qualidade de vida de milhares de pessoas para manter um equipamento funcionando a qualquer custo? Não era para termos direito ao silêncio, ao descanso, ao bem-estar básico?

A verdade é que morar na Asa Norte se tornou um desafio diário. E enquanto o poder público finge que não escuta, nós seguimos obrigados a ouvir. Alto, sem pausa, sem escolha.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.