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Disfunção cerebral

Você sabia que corrupção é doença típica de psicopata?

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Carolina Paiva, Edição

Rouba-se no Brasil e no mundo. De todo jeito, de todas as formas, por todos os meios possíveis. Mas como o que está em evidência hoje é o roubo-corrupção, até os cientistas entraram no debate do assunto, até o ponto de a ciência investigar que os comportamentos imorais são tipos de psicopatia e podem ocorrer por influência de dois fatores distintos – a disfunção anatomofuncional do cérebro e o ambiente resistente a punição.

Essa questão será debatida a partir desta quarta, 14, até o sábado, 17, em Porto Alegre, durante a 14ª edição do World Congress on Brain, Behavior and Emotions. A expectativa é grande em torno da tese do neurologista e psicólogo Antoine Bechara, professor da University of Southern California, do Brain and Creativity Institute e da University of Iowa Hospitals and Clinics, que promete aprofundar os conceitos que interligam os mecanismos neuronais e a prática de corrupção.

O comprometimento funcional do córtex pré-frontal ventromedial decorre de desordens genéticas ou de trauma e estresse no início da vida. Esses fatores precoces desregulam sistemas neuronais que alertam para as consequências das más escolhas.

Por sua vez, a atitude antiética pode acontecer sem necessariamente existir uma disfunção cerebral subjacente. Na chamada “psicologia de jardim”, o indivíduo assimila no ambiente onde vive que agir incorretamente traz benefícios a si próprio. Na maioria dos casos, o ato é reforçado pela falta de punição.

O sujeito mata, estupra e rouba, mas não é preso ou no máximo recebe uma pena mais branda. O político é contumaz em desviar dinheiro público, no entanto é protegido por foro privilegiado, seus comparsas não o condenam e a população por negligência ainda acaba por reelegê-lo.

Bechara explica as diferenças entre os tipos de psicopatia: “Aqueles com disfunção cerebral nunca aprenderão com seus erros. Caso sejam pegos e punidos por seu comportamento antissocial, voltarão a cometê-los sempre e de novo, já que são insensíveis à punição”.

Já as pessoas com psicopatia adquirida no meio em que vivem têm cérebros normais. Nesses casos, se seus crimes e suas ações corruptas receberem punição, elas poderão se ajustar quando as contingências sociais e de aprendizagem forem alteradas.

Transportando os dois conceitos para a realidade política e social brasileira, na qual a corrupção está enraizada na relação entre as esferas pública e privada, como vêm evidenciando as megaoperações policiais, a hipótese possível é que o meio produz o comportamento ilegal que assola o país.

“Quando me perguntam sobre comportamento corrupto em larga escala, sou propenso a pensar que boa parte é produto de aprendizagem, de uma cultura que reforça a corrupção, inclusive por falta de punição, diferentemente dos casos que resultam de uma função cerebral prejudicada”, avalia Bechara.

Segundo ele, os psicopatas seduzem, manipulam, mentem e exploram outros para obter vantagem própria, sem qualquer remorso. Contudo, o que intriga a ciência são os psicopatas “bem-sucedidos”, também chamados de “funcionais”. Esses estão integrados à sociedade e tornam-se grandes empresários, CEOs, líderes, políticos de alto comando. Podem, inclusive, nunca serem pegos, condenados e presos.

“A corrupção e o comportamento corrupto fazem parte dessa forma bem-sucedida ou funcional da psicopatia”, argumenta o especialista.

De acordo com o médico e professor de psicologia Vitor Geraldi Haase, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o autoengano é uma característica de personalidade calcada em padrões distintos de organização anatomo-funcional do cérebro, que fazem com que as pessoas optem por determinadas posições políticas, em função de motivos morais emocionalmente carregados.

“O autoengano é um mecanismo social-adaptativo, característico também dos psicopatas, e que evolui para a trapaça. Engana melhor aos outros quem a si próprio ilude, o famoso falso moralismo. Essas pessoas se julgam sempre boas, a culpa é sempre dos outros. Depois de fazer suas opções político-morais, essas pessoas tendem a virar fanáticas”, explica Haase.

Segundo o especialista, algumas pessoas são mais susceptíveis ao auto-engano por lesões pré-frontais ventro-mediais e também por influência de síndromes neuropsicológicas nos mecanismos cerebrais que monitoram nossa representação das realidades interna e externa. “O auto-engano torna o sujeito susceptível ao conto do vigário. O populismo é uma vigarice que pega as pessoas mais necessitadas, vendendo-lhes a ilusão de que podem conseguir coisas na vida sem esforço”, observa.

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