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Da África ao Vaticano

Vodu, entre a Luz e a Sombra, sem superstição

Publicado

Autor/Imagem:
Paulus Bakokebas - Foto Editoria de Artes/IA

Poucas tradições espirituais despertam tanto fascínio e temor quanto o Vodu. Marcado por séculos de preconceito e mistificação, ele é frequentemente reduzido ao estereótipo dos bonecos espetados por alfinetes. Mas, sob uma ótica esotérica, essa prática revela-se muito mais complexa: um sistema de fé que navega entre o bem e o mal, entre a magia que cura e a que destrói.

Originário da fusão entre crenças africanas trazidas pelos escravizados e elementos do catolicismo colonial, o Vodu é antes de tudo uma religião de ligação. Seus ritos conectam o praticante com os Loas, espíritos intermediários que transitam entre o humano e o divino, cada qual com sua força, seu temperamento e seus domínios. Invocá-los é abrir canais para que energias ancestrais se manifestem no mundo físico.

Na senda luminosa, o Vodu é medicina. Curandeiros e sacerdotes, conhecidos como houngans e mambos, utilizam ervas, cânticos e rituais para restabelecer a harmonia perdida. Doenças, infortúnios e desajustes espirituais são tratados como desequilíbrios de energia que precisam ser realinhados. Nesse aspecto, o Vodu se aproxima de práticas xamânicas: é uma ponte entre os homens e a natureza, entre os vivos e os ancestrais.

Também há o Vodu da proteção, em que talismãs e oferendas funcionam como escudos contra forças destrutivas. Aqui, o sagrado se coloca a serviço da vida, da fertilidade, da prosperidade e da paz interior.

Mas o mesmo poder que cura também pode ferir. O chamado Bokor — feiticeiro que se afasta da senda sagrada — é aquele que domina a arte do Vodu sombrio. É ele quem confecciona feitiços de amarração, maldições ou mesmo os temidos zumbis espirituais, entidades aprisionadas entre mundos.
Através do petro, lado mais tempestuoso do culto, abrem-se caminhos para a vingança, a manipulação e a destruição do adversário. Sob a ótica esotérica, esse uso das forças voduístas nada mais é do que um desequilíbrio: energia desviada de sua função natural, que cobra seu preço em retorno.

O Vodu não é essencialmente bom ou mau. Ele é, como toda tradição mágica, reflexo da intenção de quem o pratica. Assim como a faca pode cortar o pão ou ferir um corpo, o Vodu oferece instrumentos. Cabe ao coração do iniciado escolher como utilizá-los.
No olhar esotérico, sua força reside justamente nessa dualidade. É um espelho da condição humana, capaz de revelar tanto a nobreza quanto a sombra que habitam cada indivíduo.

Ver o Vodu apenas como superstição ou feitiçaria malévola é negar-lhe a profundidade espiritual que carrega. Ele é rito, mito e tradição. É ferramenta de cura e de destruição. É um chamado ancestral que ecoa até hoje, lembrando-nos de que luz e sombra convivem em todos nós — e que cada escolha é um ato de magia.

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