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Sucesso, governador

Volta de Ibaneis abre disputa pela cadeira. Perdeu, Celina

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Autor/Imagem:
José Seabra, Diretor-Editor - Foto de Arquivo

Notibras sempre pregou pugnar (um verbo transitivo usual no campo do Direito) pela impugnação, por iniciativa do próprio autor, do amargo remédio prescrito por Alexandre de Moraes, ao colocar Ibaneis Rocha sob suspeição nos atos golpistas que abalaram Brasília no dia 8 de janeiro. Foi um purgante, daqueles que se vendem em farmácias para combater a ascaridíase que atormenta meninos que andam descalços com os pés no chão. Por certo o governador, 51 anos, quando criança, foi às terras secas ou brejeiras do Piauí, onde nasceram seus pais. Desconheço se o ministro, 54 anos, também em sua infância em São Paulo, tenha sido alvo de parasitoses intestinais. Mas, como os dois andam na mesma faixa etária, a probabiliddade do sim, dentro da margem de erro, é de 99,99%.

Não privo da intimidade do governador, com quem estive presencialmente apenas uma vez, sentados um defronte ao outro, com a cabeceira da mesa ocupada por um juiz de Direito e um promotor. Oportunidades de nos vermos outras vezes não faltaram; Nenhuma delas, porém, no prédio erguido no lado oposto ao Palácio, na Praça do Buriti. Talvez por mero desinteresse das duas partes. Mas, apesar do entrevero com Ibaneis, não guardei mágoa nem rancor, embora tivesse tirado do bolso magro 10 mil reais a título de contribuição para uma instituição de caridade.

Que Ibaneis voltaria ao cargo, como voltou no meio da tarde desta quarta, 15, nunca duvidei. Como jornalista, admito que torci mesmo pelo rápido regresso. É como se diz por aí – ruim com ele, pior sem ele. Com certeza, o governador seria incapaz de gestos traiçoeiros, de jogar mirando abaixo do ventre, como fez a ex-tampão Celina Leão. Mandar prender, por mais ignóbil que seja a ordem, qualquer um (ou um qualquer) manda. Contudo, quem tem juízo, não obedece. Há em mim a plena consciência de que a Leoa deu um tiro no pé, ao abusar da sua pseudo autoridade. Desconheço o prontuário dela, mas um tiro, mesmo que de raspão, pode provocar sérios problemas à saúde de diabéticos. E como hienas não resistem a um cheiro de sangue…

Retomemos, agora, o efusivo regresso de Ibaneis. Como repórter e do alto dos meus setenta e um, dos quais 52 vivenciados em grandes redações, permito-me afirmar que o mestre Tom Jobim jamais imaginaria que uma de suas obras primas pudesse servir como a partitura do retorno do governador ao seu posto de fato e de direito, consagrado que foi nas urnas. Nada mais cristalino e poético do que enxergar que as águas de março fecharam o verão da tampão, que parecia governar como se a expectativa de ser investida no poder em definitivo, realidade fosse.

(….)

É o fundo do poço, é o fim do caminho/No rosto um desgosto, é um pouco sozinho (a).

(….)

Nada mais definitivo para o momento do que esses versos.

Também permito-me supor que Ibaneis não esperasse solidariedade cidadã de dois de seus maiores opositores. Mas teve. Enquanto alguns aliados viajavam e outros se protegiam do clarão do sol da meia noite que saía da Suprema Corte, o senador Izalci Lucas (PSDB) e o deputado Alberto Fraga (PL) esqueceram as querelas de campanha para cobrarem publicamente o retorno do governador. Ponto para ambos.

Do MDB, Ibaneis recebeu, mas não de pronto, a mão amiga e a proteção partidária. Além do deputado Rafael Prudente, outros fiéis que não se deixaram inebriar pelo cheiro doce da conspiração trabalharam incessantemente para que o partido se unisse em torno da causa, de maneira que fosse restabelecida a vontade popular, o que veio pelas mãos do próprio Xandão. Ponto, aqui, para o eleitor do governador.

Nas rodas palacianas, o acintoso desfrute da Corte foi tema diário das muitas rádios dos corredores do Buriti. Nada mais verdadeiro do que compreender que as paredes, além de ouvidos, possuem bocas ávidas para falar.

De sua parte, é sabido que ao longo desses últimos 70 dias, Ibaneis ouviu muito e pensou mais ainda. Só não se pode enfatizar a que conclusões chegou, porém difícil imaginar que não ecoaram por inúmeras vezes em sua cabeça as palavras de Augusto dos Anjos, outro gigante da literatura brasileira.

“A mão que afaga é a mesma que apedreja

Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga

Escarra nessa boca que te beija!”.

Por ora, como cidadão que vindo de longe adotou Brasília como sua cidade, resta-me desejar sucesso ao governo de Ibaneis Rocha. Porém, como jornalista, posso dizer que estão abertas as apostas sobre quem será seu sucessor. Até 2026 chegar, passará muita água sob a ponte. Mas uma coisa é certa: Celina, a quem vi, abismado, sentar-se na cadeira mais alta da Câmara Legislativa com jeans rasgados, como uma aborrecente da idade de uma de minhas netas, terá pela frente um adversário que joga limpo e que não se esconde em trincheiras. E se, até o próximo pleito, decidir mudar de profissão, serei domador de panthera leo. Com direito a usar chicote no picadeiro de um circo.

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