Terra do aconchego
Volta dos imigrantes dá nova cara ao sertão
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O sertão — esse chão que parece carregar séculos dentro de cada grão de areia — nunca foi realmente parado, embora tantos o descrevam como imutável. Hoje, ele se redesenha em silêncios e estradas, em partidas que viram retornos, em despedidas que, inesperadas, se transformam em reencontros. A migração de retorno tem dado novos ritmos à região. Aqueles que um dia partiram, empurrados pela seca, pela fome, pela ausência de oportunidades ou simplesmente pela promessa de um futuro mais largo, agora voltam trazendo outras bagagens: um ofício aprendido longe, um olhar mais amplo, a saudade finalmente vencida, o desejo de reconstruir onde um dia foi impossível permanecer.
Enquanto isso, Recife, Fortaleza e Salvador — gigantes luminosas do Nordeste — seguem crescendo, absorvendo histórias, acolhendo quem chega do sertão em busca de um pouco mais. A urbanização toma forma em avenidas que se alargam, em arranha-céus espelhados, em bairros que nascem do nada e se enchem de tudo. Cidades que, aos poucos, também aprendem a carregar o sertão dentro delas: na culinária, na fé, no jeito de falar, no riso que se espalha fácil.
Essa movimentação constante, esse fluxo de vai e vem, revela algo essencial: o sertão nunca foi apenas terra árida, mas território vivo. Ele pulsa com quem fica e com quem volta, com quem o leva dentro de si para onde for. O Nordeste se transforma sem abandonar sua raiz, e talvez seja essa a sua maior força: mudar enquanto permanece, permanecer enquanto muda.
No fim das contas, o sertão não cabe apenas no mapa. Ele mora no passo de quem migra, no retorno de quem saudade, e na urbanização que avança sem apagar memórias. Porque o Nordeste é assim: um lugar onde tudo se move, mesmo quando parece quieto.