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Alea jacta est

Voto de hoje pode resultar em novo Brasil a partir de amanhã

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso/Especial para Notibras - Foto de Arquivo

Acabou o chororô, a radicalização e as fracassadas tentativas de reduzir garantias. Agora é no voto. É o ódio, as ameaças e a ignorância humana contra a paz, a esperança e a harmonia. Em síntese, é a luta do golpismo contra a democracia plena e absoluta. O jogo eleitoral termina neste domingo. Embora um lado cante vitória antecipada e afirme que o “imbatível” esmagará seu adversário no primeiro turno, as pesquisas de intenção de votos revelam exatamente o contrário. Confirmados os números (52% dos votos válidos contra 36%), as urnas eletrônicas mostrarão no fim da tarde deste domingo, 2, ondas gigantes, acompanhadas de ventos de muitos quilômetros/hora, golpeando a candidatura dos folguedos, da soberba, das motociatas e dos eventuais churrasquinhos de frango nas feiras livres do Distrito Federal. Serão os sufrágios da liberdade que mudarão a fase lorota para o modo obrigação de produzir.

Fã de frases e pensamentos imperecíveis, vez por outra me vem à cabeça aqueles autoaplicáveis. Autor de um dos mais célebres, o filósofo grego Sócrates definiu de forma ímpar o desejo humano de mudar. Segundo ele, o segredo sobre fazer mudanças é não focar toda sua energia lutando contra o velho, mas sim ajudando a construir o novo. Se me fosse permitido, acrescentaria a essa pérola a seguinte expressão: mesmo que o novo seja velho. É o caso desta eleição. À noite, comemoraremos o equilíbrio e a sensatez. Estamos em plena primavera, mas, ao digitar o número do candidato de nossa preferência, devemos nos imaginar no outono, quando as folhas caem anunciando a transformação e o renascimento. Nessa quadra da vida, quando um dos candidatos esqueceu de sua condição de presidente, experimentamos a sensação do conflito entre a cruz e a espada. Talvez seja esta a constatação mais objetiva desse período.

A briga furiosa, estúpida e sem propósito lógico resultou na falta de alternativas convincentes e capazes de barrar essa tal polarização. Poderíamos ter mais candidatos discutindo propostas e projetos para tirar o país do buraco. Não foi assim. Fora os dois com chances reais de vencer, os demais (nem todos) participam da disputa com intenções claras de se cacifar para um próximo pleito presidencial. São investidores no eleitor de memória curta e, quem sabe, com prazo de validade no quesito satisfação. Não deveria, mas é assim que funciona o jogo político. Os chamados investidores bem que poderiam se mirar na máxima de John F. Kennedy, ex-presidente dos Estados Unidos, para quem aqueles que olham apenas para o passado e para o presente serão esquecidos no futuro. Considerando o grau de amnésia do eleitorado brasileiro, cuja maioria sequer lembra o nome do deputado federal em que votou em 2018, provavelmente os candidatos de hoje serão basicamente os mesmos de 2026.

É o Brasil que tem medo de se renovar. Daí aceitarmos a disputa entre o ódio explícito e o amor envergonhado. Apesar da comprovação de que adentramos o mato espinhoso sem cachorro, não devemos olvidar de que mudar é querer trilhar novos caminhos. E só existem duas razões para qualquer mudança: aprendemos ou sofremos o suficiente para buscarmos um futuro menos tenebroso. Enfim, neste domingo elegeremos mais um presidente da República, o 39º de nossa história republicana. E mais uma vez amparados no sistema eletrônico de votação, inimigo números 01, 02 e 03 de um dos candidatos. Qual a razão do medo? Será a escassez de votos? Talvez! Seja lá o que for, vale recuar alguns anos e lembrar de Nelson de Azevedo Jobim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral na eleição geral de 2002, a primeira com 100% de urnas eletrônicas.

Pobre de votos, mas craque na arte de fazer política, Jobim cunhou duas das mais famosas frases eleitorais e que ainda hoje, junto com as pesquisas de intenção de votos, incomoda quem acha que pode virar o jogo por meio da força, das armas ou do efeito de pacotes de bondade. Para o ministro aposentado do STF, urna eletrônica é sinônimo de morte súbita. Ou seja, meia hora após computado o voto depositado na maquininha eliminadora de fraudes, os cerca de 215 milhões de brasileiros já saberão quem é o “feliz” vencedor. Não há hipótese de churrasco enquanto os votos são contabilizados. Em resumo, de 8h às 17h deste dia 2, deveremos votar preocupados com a liberdade, um bem inalienável do cidadão e tão importante como a vida. Por isso, preservá-la é fundamental.

Dispomos de parcos minutos entre a chegada e a saída da seção eleitoral. Então, não percamos tempo querendo fazer a cabeça dos outros. Ainda somos muito jovens para morrer, mas experientes o suficiente para saber discernir entre o bom, o mau, o chato e o feio. Como cristão e desafeto de impostores, principalmente de falsos padres e de profetas de ocasião, lamento apenas o fato de um ser humano, resultado do milagre da vida, odiar tantos e ser odiado por muitos. Sem medo de errar e sem demagogia, prefiro optar pelo suposto desonesto. Traduzindo uma outra frase famosa (alea jacta est), a sorte está lançada. Que o resultado de hoje reflita a mudança que queremos para o Brasil. Se não mudarmos o que fazemos hoje, todos os amanhãs serão iguais a ontem. Quem não tem sonhos não tem direção. Eu sonho com um país melhor. Que comecemos hoje a sonhada mudança.

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