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Votorantim, Educação...

Weintraub, depois de quebrar tudo, pode quebrar Bird

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Autor/Imagem:
Mariane Barbosa/Via Diálogos do Sul - Carolina Paiva, Edição

“Não sabem que ele (Weintraub) trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009”. O comentário irônico é do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao manifestar preocupação com o futuro do Banco Mundial, caso se confirme a ida do ex-ministro da Educação para uma diretoria da instituição. Se ele (o ex-ministro) vai quebrar também o Bird, a pergunta deve ser feita a quem o indicou para o cargo (o presidente Jair Bolsonaro), afirmou o deputado.

Abraham Weintraub assumiu o Ministério da Educação no início de abril de 2019, no lugar de Ricardo Vélez, que na época, foi muito criticado por sua qualidade acadêmica. Mal sabíamos, porém, que poderia ficar pior. Nesta quinta-feira (18), após rumores de sua possível demissão, Weintraub foi oficialmente desligado do ministério. A confirmação foi dada em um vídeo em que o ex-ministro aparece ao lado de Jair Bolsonaro.

“Todos que estão nos ouvindo agora são maiores de idade, sabem o que o Brasil está passando. E o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade. Eu faço o que o povo quiser”, disse Bolsonaro no vídeo, que enfrentou pressão de diferentes setores pela saída do ex-ministro da educação, considerado um dos principais obstáculos para a trégua do governo federal com os outros poderes.

Nos últimos meses, Weintraub polemizou ao chamar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “vagabundos” e publicar insinuações racistas contra chineses em suas redes sociais.

Na questão ideológica, Weintraub se mostrou capaz de tudo nos 14 meses que ocupou a o cargo. Seguidor fiel de Olavo de Carvalho, desde que assumiu a pasta, o ex-ministro proferiu diversos ataques às universidades e professores da rede pública de ensino e a opositores do governo Bolsonaro. E, como se não bastasse, seu nome foi mantido pelo STF no inquérito sobre fake news.

Como enfatizou Amanda Haruki, doutoranda em Integração da América Latina (PROLAM-USP) e professora de Política Latino-americana, Abraham veio com “uma missão de atacar as universidades públicas”. Um exemplo da intenção citada por Haruki, é o projeto Future-se.

O programa, apresentado em julho de 2019, perdeu suas forças por falta de apoio na comunidade acadêmica e levou às ruas movimentos estudantis, professores e brasileiros que repudiaram o projeto, que tinha como base a privatização das universidades federais. “Weintraub encontrou bastante resistência nas suas ações concretas contra a educação, então pra ele também não tem sido um processo fácil essa missão”, disse a educadora.

A saída do ministério foi prorrogada pela “pressão” da família de Bolsonaro e pela “militância bolsonarista”, que advogaram a favor da permanência do olavista, “com o argumento de que, nas palavras de um assessor presidencial, ‘ele tem um simbolismo muito grande’ na ala ideológica.

Para Haruki, a passagem de Weintraub pelo Ministério da Educação foi “extremamente contraditória”, pelo fato de ter uma narrativa de “criminalização das universidades, dos professores e até um pensamento anticientífico, com um projeto de questionamento das estruturas das universidades”, diz a professora ao repudiar a percepção negativa do ex-ministro contra as áreas de humanas e explicar que o coronavírus evidenciou a necessidade do Estado e das universidades públicas serem essenciais para o combate à pandemia.

“Ele persegue e criminaliza as humanidades, isso mostra um amplo desconhecimento da área de humanas, porque ele não compreende que as saídas da sociedade, as saídas econômicas, sociais que o coronavírus está trazendo”, ressalta. “Quem pensa nessas saídas, quem faz as pesquisas sobre essas saídas são as humanidades, então elas são tão urgentes e tão necessárias quanto as outras áreas”.

A educadora acredita que a queda de Weintraub não signifique, necessariamente, um momento de folga para a resistência na educação.

“Eu acho que o projeto teria continuidade com outras pessoas, porém, o fim dessa narrativa de ataques constantes seria muito importante, porque é o momento de mostrarmos para a sociedade que precisa sair dessa situação, e vamos sair por meio da ciência e do investimento na educação e nas universidades”, conclui.

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