Curta nossa página


Futuro tá chegando

Xandão deixa rei nu, mas prepara um pijama laranja, listrado

Publicado

Autor/Imagem:
Rafaela Fernanda Lopes - Foto de Arquivo

O depoimento de Jair Bolsonaro à Polícia Federal não foi apenas um momento jurídico relevante, mas também um espetáculo tragicômico digno de uma análise. Quem assistiu ou leu os relatos das falas do ex-presidente viu, mais uma vez, a máscara de valentia se desmoronar diante de uma simples exigência de responsabilidade. O homem que, nas lives, imitava arma com as mãos, berrava frases de efeito e esbanjava arrogância contra instituições e adversários, transformou-se em algo próximo a um roedor acuado diante de Alexandre de Moraes e das evidências, cada vez mais robustas contra ele.

O “mito”, como ainda o chamam alguns devotos, mais fiéis do que racionais, virou um covarde qualquer. Um sujeito banal, com medo das consequências dos próprios atos. Ao invés de assumir a responsabilidade, jogou a culpa em assessores, ministros e até em fantasmas da burocracia. Ele, que sempre se gabou de ser o capitão destemido, virou o comandante do barco afundado. O primeiro a abandonar o navio em tempestade.

É difícil não ironizar quem ainda o defende. Porque não se trata mais de opinião ou viés político: são fatos, documentos, vídeos, mensagens e articulações escancaradas. E diante de tudo isso, tem gente que ainda diz que “ele não sabia”, “foi traído”, ou pior, que “é tudo invenção da mídia”. Esses defensores parecem ter uma capacidade sobre-humana de ignorar a realidade. Talvez porque reconhecer que foram enganados por um farsante seja mais doloroso do que continuar acreditando no personagem que criaram para si mesmos.

Mais absurdo ainda é pensar que esse homem ocupou a presidência da República. Que Jair Bolsonaro, com sua limitação intelectual explícita, seu vocabulário empobrecido, suas ideias retrógradas e seu completo desprezo pelas instituições democráticas, tenha recebido mais de 58 milhões de votos em 2022. Esse é um retrato melancólico de parte da sociedade brasileira.

Como pode tanta gente se identificar com alguém tão chucro, tão primitivo na forma de pensar e agir? É como se a brutalidade, a ignorância e a grosseria tivessem virado sinônimos de autenticidade. Como se a ignorância, o desprezo pela ciência, pela empatia e pelo diálogo fossem virtudes a serem cultivadas. Bolsonaro não é um fenômeno político: ele é um espelho distorcido de valores que, infelizmente, ainda seduzem milhões.

No fim, o depoimento dele foi revelador. Mostrou que o rei está nu e que, mesmo assim, tem quem aplauda seu analfabetismo moral. O valentão virou um rato. E há quem ainda grite “mito”, enquanto segura a bandeira com uma mão e tapa os olhos com a outra.

………………………..

Rafaela Lopes, colaboradora do Café Literário, produz textos especiais para a Editoria Brasil de Notibras

Comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.