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Troca de comando

Xandão deixa TSE nas mãos de Cármen, juíza que não foge da raia

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo/ABr

 

No atual cenário brasileiro, as pessoas ruins não se reconhecem, isto é, se acham os melhores seres do mundo. Mesmo sob protesto, os bons e até os mais ou menos tentam nadar rumo ao paraíso desconhecido. Deixam pelo caminho marcas valorosas. Diz o ditado que quem desenvolve seu próprio brilho não se incomoda com as sombras. São aqueles que não precisam de holofotes e não temem a escuridão. Do outro lado, tem gente que, em lugar de acender sua própria chama, vive tentando ofuscar o brilho dos outros. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes aproveitou sua passagem pelo Tribunal Superior Eleitoral e não se limitou à extensa burocracia da Corte. Mostrou que é bom desde a posse, uma das mais concorridas do Tribunal.

Faiscou algum tempo no segundo alinhamento, mas reluziu, resplandeceu e se notabilizou na primeira fila da defesa da transparência do sistema eleitoral, da inviolabilidade das urnas eletrônicas e, sobretudo, da democracia. Intolerante a ameaças, a cara feia e a gritos, fez o que deveria ter sido feito, inclusive se colocando na liderança do batalhão que enfrentou o ódio, as tentativas de rupturas e todas as formas de arbítrio. Prometeu e cumpriu celeridade e punição implacável àqueles que insinuassem que cinco era o resultado correto da soma de dois mais dois. Embora seja odiado pelos que adoram não amar ninguém, com sua coragem e destemor conquistou respeito à direita e à esquerda, principalmente após afirmar publicamente que não haveria golpe e que o presidente eleito seria empossado. Vem daí o sincero e justo codinome de Xandão, o xerifão das eleições de 2022.

Não à toa, até a careca de Alexandre é reluzente. Queiram ou não, gostem ou não, o ministro paulistano recolocou o TSE no centro do jogo político. Resumindo a ópera, Xandão macetou e encantou na Justiça Eleitoral. E faz o mesmo no STF, onde, com apoio da maioria dos pares, tem sido implacável com os “patriotas” que, fugindo às regras da boa convivência, vandalizaram a Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023, tendo como objeto a derrubada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, empossado uma semana antes. O resultado não poderia ser outro: acompanhando o voto de Alexandre de Moraes, o Supremo já condenou mais de 200 “terroristas” com penas que variam de 14 a 17 anos de prisão.

Como todos aqueles que se opuseram ao sonho dourado da ditadura meio barro, meio tijolo, isto é, meio farda, meio milícia, Alexandre de Moraes deixará o gramado do TSE dia 3 de junho próximo. Fosse uma disputa esportiva, ele teria ganho pelo menos quatro troféus de peso: requalificar o sistema eletrônico de votação, garantir a eleição e posse de Lula, cassar o mandado de Deltan Dallagnol e tornar Bolsonaro inelegível até 2030. Do ponto de vista eleitoral, um de seus maiores legados para o país foi aprovado no fim de fevereiro deste ano. Trata-se das 12 normas das eleições municipais deste ano, nas quais está incluída a regulamentação do uso da inteligência artificial (IA) na propaganda de partidos, coligações, federações partidárias e candidatos.

De frente para as torcidas organizadas, Xandão adiantou que quem usar a IA para atacar adversário terá o registro de candidatura cassado ou perderá o mandato, caso tenha sido eleito. Objetivando combater a disseminação de fake news, a resolução sobre propaganda também impõe uma série de obrigação aos provedores de internet e às plataformas digitais. Além da desinformação, a determinação impede conteúdo antidemocrático, nazista, fascista ou que apresente comportamento de ódio. As regras estão postas para que o jogo seja jogado em ordem. Quem pisar fora das quatro linhas será expulso de campo e poderá ficar suspenso por tempo indeterminado. Xandão não será o juiz de campo. Ele será substituído pela ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, que não foge da raia, não teme gritos e xingamentos e igualmente não se dobra a pressões políticas.

A exemplo do que fez Xandão com a eminência parda da bravata, ela promete usar o cartão vermelho sempre que necessário e não aceitará chororô do tipo perseguição. Portanto, os jogadores pernas de pau que se cuidem. Sairá o juiz de toga comprida, decisões firmes e aquilo roxo e entrará a juíza de voz suave, sorriso longo e do “cala a boca já morreu”. Escreveu, não leu…é analfabeto político e não merece sequer figurar na lista de candidatos. Antiga, a máxima dos julgadores eleitorais no plenário é simples: é muito mais rápido analisar a coisa certa do que explicar as erradas. Por isso, a ordem velada do TSE para os candidatos desta e das futuras eleições é ainda mais simples: fazer a coisa certa pode doer, mas o caminho errado custa muito caro. Simples assim. Gostem ou não os “patriotas”, a verdade é que Xandão enche os brasileiros decentes de orgulho pela sua coragem e sabedoria.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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