Porre
A BREVE AVENIDA
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“Na Paulista os faróis já vão abrir / E um milhão de estrelas prontas pra invadir / Nos Jardins…”
(Eduardo Gudin/J. C. Costa Neto, anos 80)
Yasthuffi me diz:
“Já morei em tantas avenidas. Mas nada como a Avenida Paulista.”
Fechei a entrevista e fui para o bar de todas as sextas-feiras;
“em Sampa, meu…. O que resta?”
No dia seguinte, o maior cara da comunicação digital atual acordou de ressaca.
Olhou a imagem no espelho, desfocada,
Pensou:
“é porre”.
Tomou a chuveirada e voltou.
Saiu e pegou o elevador. Chegou ao escritório como uma máquina.
Cagou na secretária; deu merda com o rapaz do café.
Enfim, em meio à ressaca ele chegou ao seu trono.
Mas a vida trama e a trama tece com a vida.
Em menos de dez anos ele definhou e caiu.
Na cadeia percebeu algumas luzes.
“Fico aqui pra sempre ao vou inventar algo PORRADA!
E inventou.
Criativo, criou uma Loteria da Morte.
Após três anos muito bem a coisa degringolou.
Caiu no inferno novamente e começou a pensar.
E veio a nova tentativa:
Percebeu que tinha fazer uma aliança com o poder.
E fez.
Anos depois o cara deixou a prisão e logo estava de volta. Foi empossado como Secretário Municipal de Segurança.
Durou pouco mais que oito meses.
Meteu-se em grupelhos de poder e caiu.
E com a queda pensou novamente em outra PORRADA.
Voltou pregando o lance dos Bits de apostas.
Ganhou dinheirão. E investiu na milícia.
Depois toquei a minha vida.
Duas décadas após, mais experiente, porém bem envelhecido, terminou os seus dias em uma cadeira de rodas após o trágico acidente de moto.
Yasthuffi fez carreira. Depois morreu sozinho e abandonado num subúrbio chinfrim e Brasília.
Deixou escrito em seu túmulo:
“Durante anos perambulei pela Avenida. Dias perfeitos”.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador conhecedor de cada calçada, cada sinal e cada poste de luz da Avenida Paulista. Hoje vive na Guarda do Embaú, litoral de SC.