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Destino incerto

A dor tem CEP e faz a mente adoecer com o bolso já vazio

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

A ONU confirmou o que os pobres já sabiam: ser pobre enlouquece.

Mas não no sentido figurado, poético, dramático. No sentido clínico. Real. Silencioso.

Pessoas em situação de pobreza têm até três vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais.

Três vezes mais ansiedade por não saber se paga o aluguel ou a comida.

Três vezes mais depressão por viver num loop de cobranças, dívidas e frustrações.

Três vezes mais insônia, medo, crises de pânico e três vezes menos acesso a tratamento.

Ser pobre é viver numa selva sem anestesia.

Onde o corpo adoece, a mente cansa, e ainda assim você tem que levantar cedo pra não perder o emprego ou a dignidade.

Mas os consultórios ainda estão cheios de gente branca, de classe média, com convênio e frases prontas: “A ansiedade não tem classe social.”

Tem, sim.

E endereço. E gênero. E cor.

É uma estatística que tem cara de mulher preta, mãe solo, jovem periférico, trabalhador informal.

A precariedade no trabalho, o medo de faltar, o cansaço de nunca chegar tudo isso vira sintoma.

E ninguém receita renda básica, moradia digna ou acesso à terapia.

Prescrevem remédios pra tratar uma estrutura que adoece.

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