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Encontro no cemitério

A jovem misteriosa e o enterro do policial

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

A mulher, tipo incomum, passou pelos parentes e amigos do defunto e, sem qualquer cerimônia, depositou um buquê do flores sobre o caixão. Ninguém a conhecia, nem mesmo Laura, a viúva. Seria amante de Alberto, cujo corpo permanecia inerte dentro do ataúde?

— Não creio que seja, mamãe. Papai, apesar de nunca ter sido santo, não teria cacife para bancar essa gata.

— Carlos Augusto, por favor! Respeite a memória do seu pai.

— Tá bom, mãe! Não tá mais aqui quem falou.

— Pois desconfio de outra coisa.

— Do quê, Márcia?

— Pode ser que ela seja nossa irmã.

— Branca daquele jeito? Nem se papai tivesse feito aquele lance que o Michael Jackson fez.

— Por favor! Calem a boca! Não podem fazer um minuto de silêncio?

A despeito dos protestos de Laura, ela continuava com a pulga atrás da orelha. Afinal, quem era aquela moça? Curiosa, aproximou-se.

— Bom dia.

— Bom dia.

— Laura.

— Sei quem é a senhora.

— E de onde me conhece? Posso saber?

— Claro que pode, agora que o seu Alberto se foi.

— Seu Alberto? Pelo visto, meu filho estava errado em relação a você.

— Carlos Augusto?

— Sim. Você o conhece também?

— Não exatamente como a senhora poderia supor.

— E como seria?

— Como eu o conheço?

— Sim.

— Da mesma forma que a conheço, bem como também a Márcia, filha da senhora e do seu Alberto.

— Estou curiosa. Pode me esclarecer isso tudo, por favor?

— Será um prazer.

Laura apontou um banco sob uma árvore. As duas foram até lá e se sentaram.

— Dona Laura, seu marido matou meu pai.

— O quê?

— Isso foi há quase 20 anos, quando eu ainda era recém-nascida. Papai não era flor que se cheire, metido com a bandidagem. Os caminhos do meu pai e do seu marido se cruzaram de maneira trágica. Seu Augusto, como a senhora sabe, era policial. Em uma troca de tiros, seu marido foi ferido por meu pai, que também foi atingido.

— Eu me lembro desse dia. Alberto quase morreu. Tomou um tiro na coxa, perdeu muito sangue.

— Sim. Meu pai foi atingido no coração e morreu no local.

— Tá, mas e daí?

— E daí o quê?

— Como você veio parar aqui? Como você me conhece? Como você sabe quem são meus filhos? Afinal, como você mesma disse, você não passava de um bebê.

— Seu Augusto, após se recuperar, foi atrás da minha mãe. Ele estava cheio de culpa por ter tirado a vida do marido dela. Ele passou a ajudar financeiramente minha mãe até que fiquei adulta. Seu Alberto foi um homem muito bom.

— Ele nunca me contou sobre isso.

— Sei disso, pois ele fez mamãe prometer que essa história jamais chegasse aos ouvidos da senhora e dos seus filhos.

— E por que você está me contando isso tudo agora? Por quê?

— Seu Alberto me procurou há cinco meses. Disse que estava com câncer, que os médicos o haviam desenganado. Ele me pediu para contar tudo para a senhora, pois não queria que a sua família viesse a saber pela boca de outra pessoa.

Laura fitou a jovem por alguns instantes até que a emoção a empurrou para um abraço. A viúva chorou e, depois de recomposta, viu a moça partir. Elas nunca mais se viram.

Após o enterro, Laura e os filhos retornaram para casa. A mulher contou a história da jovem. Os filhos, misto de perplexidade e admiração, entenderam que o pai havia tomado a decisão certa.

— Mamãe, e qual era o nome da moça?

— Márcia, minha filha, não tive tempo de perguntar.

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Eduardo Martínez é autor do livro 157 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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